Roberto* estava dirigindo o caminhão da companhia de eletricidade local (Duky Energy) na SP-613 – rodovia que corta o Parque Estadual Morro do Diabo ao meio (Pontal do Paranapanema). Como ainda era madrugada, não viu o vulto passando na sua frente e atropelou e matou uma onça pintada que atravessava o parque de um lado para o outro. Essa onça estava sendo estudada pelos pesquisadores do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) e, por isso, andava com um rádio-colar preso ao pescoço. Quando Roberto viu aquilo, logo lembrou que tinha assistido na televisão uma onça com um colar exatamente igual aquele, e concluiu que acabara de atropelar uma onça famosa. No momento em que a Polícia Florestal e os pesquisadores chegaram no local, Roberto chorava copiosamente dizendo que tinha matado a onça do “Globo Rural”. Ele apenas se acalmou depois que os pesquisadores explicaram que os rádios-colares são fabricados por poucas empresas e, por isso, tendem a ser muito parecidos.
O caso chegou a promotoria pública, a qual resolveu pedir uma indenização da companhia elétrica. Eles aceitaram a solicitação, no entanto, os advogados apenas pediram que o promotor informasse o quanto valia uma onça!
O promotor não sabia esse valor e pediu um tempo no processo para que fosse buscar junto a pesquisadores da área o quanto a companhia deveria pagar para compensar a onça morta. A busca do promotor não foi fácil. Pois grande parte dos pesquisadores consideravam que a onça tinha um valor intrínseco, e seria impossível valorá-la. No entanto, sem um preço claro, a companhia não iria compensar o dano.
Esse caso foi parar na sala do Professor Dr. Cláudio Pádua na Universidade de Brasília. E assim como os outros pesquisadores, também considerou que a onça tem um valor intrínseco, no entanto, resolveu tentar solucionar o problema. Para estimar o preço da onça calculou quanto custaria para cuidar de um filhote desde pequeno, treiná-lo para uma readaptação na natureza e o seu processo de soltura, chegando ao preço de cerca de US$ 200 mil. Esse valor foi repassado ao promotor público e depois a companhia elétrica. O dinheiro foi doado aos pesquisadores do IPÊ que compraram mais rádios-colares para estudar outras onças no Pontal do Paranapanema, para a tristeza de Roberto, que ficou ainda mais confuso.
*Nome fictício.
Rafael Morais Chiaravalloti, biólogo e mestre em Desenvolvimento Sustentável. Autor do livro “Escolhas Sustentáveis: discutindo biodiversidade, uso da terra, água e aquecimento global” e colaborador de revistas da área de Sustentabilidade. e-mail: rafaelmochi@gmail.com e Facebook.
6 Comments
Ana Karla da Silva Martins
ÓTIMO ARTIGO. PARABÉNS, Rafael.
Rafael Morais Chiaravalloti
Brigadão Ana!
Karen Lis
Morri de dó da onça, que bom que a indenização reverteu para continuar a estudar os bichinhos…
Rafael Morais Chiaravalloti
Oi Karen, é muito triste mesmo ver animais mortos em rodovias. Mas, infelizmente, é muito comum. Com a expansão da malha ferroviária e a aproximação com a vida selvagem, o número de atropelamentos têm crescido muito. Tem até um ramo da ecologia que estuda isso – chamado ecologia de estradas.
E nesse caso foi indenizado, mas na grande maioria dos outros não é o que ocorre. Mas sempre estamos ai tentando lutar por uma mundo melhor. A casa escolha sustentável já é mais um passo.
Brigadão pelo seu comentário
Rafael
Jarcy Tania
Ai que dó, muito lindo este animal! Já tirei um gato morto por atropelamento em uma rua aqui perto de casa, além da pena, uma questão de humanidade, outro veículo poderia passar sobre ele. Terrível.
Antonio Gabriel Cerqueira Gonçalves
Karen Lis e Jarcy, sem dúvida, a onça é linda, dá dó de ver mesmo, ainda bem que o desfecho desta história, foi “feliz”. Este é um tema que merece destaque, afinal, atropelamentos são tão comuns, infelizmente… É preciso atenção e responsabilidade. Obrigado por seus comentários aqui no Diário do Verde =)