Aquela pessoa que tem um cachorro de porte grande no quintal vai, possivelmente, entender esta analogia. Ou mesmo, aquele que já andou de Havaianas na rua também. Quando se está descalço, ou com uma havaiana velha, e pisa-se em um grande cocô, é praticamente impossível não se sujar mais a cada micro movimento. Quanto mais se mexe, pior fica. Não vou entrar em detalhes, mas o “caminho” é mais ou mesmo esse. Com o desmatamento na Amazônia é a mesma coisa. Quando mais se mexe, ou mais fundo vão as investigações, mais percebe-se que estamos muito longe de uma solução.
O mais novo relatório sobre a produção de minério de ferro no Pará, do Instituto Observatório Social, mostra bem isso. Em resumo é assim. Carvoarias ilegais desmatam a Floresta Amazônica e utilizam trabalho escravo. O carvão é vendido à Mineradoras (como Carajás) que o utilizam para produzir o minério de ferro. Como é ilegal e foi utilizado mão de obra escrava, o carvão é comprado por um preço bem mais baixo. Pagando menos, as mineradoras vendem o minério de ferro mais barato do mundo, ou seja, muito comprador. Muitos compradores, no entanto, são grandes montadoras de carros e de aeronaves, os quais pressionam por um modelo sustentável. Aí entra o papel do estado e dos órgãos ambientais, que elaboram falsas notas fiscais dizendo que o carvão é legal (lavam o carvão). E por incrível que pareça o buraco é ainda mais embaixo. Carvoarias precisam de um capital inicial para começar o negócio. E é para isso que existem os bancos nacionais. Segundo investigações do Ministério Público Federal, o BNDES e o Banco do Brasil são grandes investidores de negócios, vamos dizer, com objetivos não muito nobres no Pará.
Ainda assim, o Brasil está em uma campanha para que o mercado externo compre o etanol com a justificativa que somos um país que preocupa-se com as questões ambientais. Antes de qualquer coisa precisamos limpa o cocô que está entre os dedos.
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Rafael Morais Chiaravalloti, biólogo e mestre em Desenvolvimento Sustentável.
Livro: “Escolhas Sustentáveis: discutindo biodiversidade, uso da terra, água e aquecimento global” com Cláudio Pádua, Editora Urbana, 2011, 168 p.
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