Esta semana me recordei de um dia (dentre tantas recordações e tantos dias), um em especial. A Lú (minha companheira) morava em Cametá junto com sua irmã, cunhado e dois filhos (Pedrinho e Clarice). A Lú e o Pedro (seu cunhado) trabalhavam em uma ONG (a APACC) com projetos em andamento na região do Baixo Tocantins. Ao término do projeto e todo aquele processo de mudança de casa, município e trabalho novo, presenciamos este fato. Singelo, melancólico e revelador de uma percepção que só as crianças parecem ter.
No dia fatídico da mudança, moveis no caminhão, apagando as luzes, fechando o portão, depois de um dia um tanto quanto festivo para dar um ar de boas novas à mudança, onde teve um bom churrasco, boa música, as crianças brincando, correndo pelo jardim e quintal… Na hora da despedida em frente a casa uma amiguinha do Pedrinho disse para ele: “É Pedrinho, te despede da terra, do quintal, das árvores, dos passarinhos!” O Pedrinho riu. Eu e a Lú ficamos olhando a cena com um misto de comoção e constatação. A Lú perguntou o porquê ela havia dito aquilo. Ao que ela respondeu do alto de seus 9 anos: “Porque na cidade não tem isso aqui, é tudo asfalto, cimento e azulejo.”
“Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta
Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca
Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza
Por isso eu pergunto
À você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria (…)”
(Gentileza – Marisa Monte)
6 Comments
Rafael Morais Chiaravalloti
Que bonito Sandro.
Sandro Henrique Rodrigues Menezes
Olá Rafael! penso que escrever as vezes é um ato muito solitário e não temos a real dimensão dos alcances desta rede. Desejo que sempre que escrevo, o que escrevo, possa fazer sentido além de mim. Abraços!
Luciana Ataíde
Boa lembrança… Muito bom lembrar , relembrar de coisas que nos marcam profundamente. Parabéns pelo belissímo texto.
Sandro Henrique Rodrigues Menezes
Obrigado Lú! No fundo talvez sejamos uma lembrança (ou muitas) que insiste em nos fazer quem somos. Beijos!
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Sandro Henrique Rodrigues Menezes
Obrigado por repassar e difundir o blog Diário do Verde!