A ambição de transformar uma empresa tradicional em uma organização sustentável é cada vez mais comum. De acordo com o getAbstract, principal serviço de resumos sobre livros técnicos recomendados para executivos, o termo sustentabilidade se tornou um dos temas mais focados na literatura de negócios. Entre os cerca de 5 mil títulos presentes no acervo, 460 volumes estão relacionados ao tema. A palavra sustentabilidade está no mesmo nível de procura que temas comuns como: “negociação”, “mercado de capitais”, “marketing” e “consultoria” (Smeraldi 2009). Entretanto, apesar de existir uma procura maior pelo tema, poucas organizações conseguem efetivamente ultrapassar a barreira entre a pretensão e a efetivação. Como diz a sabedoria popular: Falar é fácil, fazer não é tão simples.
Como um exemplo dessa situação, podemos citar “O Guia Exame de Sustentabilidade” (edição especial da revista Exame), o qual todo ano realiza uma competição para selecionar a empresa mais sustentável do país. A inscrição para o processo de seleção é feita de modo espontâneo, no entanto só participam do processo seletivo aquelas que responderem 122 perguntas sobre atividades relacionadas à sustentabilidade. As perguntas são, de certo modo, simples e estão pautadas sobre a existência de comitês, publicação de relatórios, metas para redução de CO2, remunerações relacionadas a metas ambientais e sociais etc. As empresas não precisam realizar as atividades, apenas responder as perguntas.
No guia de 2009, 210 empresas se inscreveram e apenas 141 (ou 67,1%) responderam todas as perguntas. Partindo do pressuposto, as 210 empresas inscritas, possivelmente, acreditavam que poderiam ser consideradas “a empresa sustentável do ano”, uma vez que a inscrição é feita de modo espontâneo. Também que esta competição seguiria um critério mais jornalístico e não seria tão rigorosa como outros indicadores de sustentabilidade. Pode-se concluir que quase um terço de todas as empresas que se consideravam sustentáveis, não conseguiram sequer participar por não responder perguntas simples sobre algumas atividades.
Entretanto, existe um pequeno grupo de organizações que tem empenhado um real esforço para se adequar a essa política e o mais importante; elas têm tido um grande sucesso econômico. Incorporando a sustentabilidade em uma política cotidiana, as questões ambientais e sociais começam a fazer parte do crescimento econômico, e não significam um problema para ele. Um exemplo de sucesso no Brasil é a Natura Cosméticos. A sua política de sustentabilidade envolve toda sua cadeia de produção, desde a coleta do produto na natureza para a fabricação do cosmético até o destino da embalagem. Apenas no ano de 2008, a empresa gerou um lucro de 2 bilhões de dólares, e foi considerada a Maior e Melhor Empresa do Brasil de 2009 pela mesma revista que realiza o Guia Exame de Sustentabilidade.
Em resumo, existe um grupo de organizações que tem gerado grande lucro com uma política sustentável, que tornou a idéia atraente aumentando a procura pelo tema. Contudo, como não é algo simples e muito menos rápido, poucos têm alcançado sucesso. Nas palavras do pesquisador Desta Mebratu (1998), muitas organizações que buscam uma política sustentável se baseiam em apenas argumentos vagos como mudança de ética e paradigma, e esquecem as ações realmente concretas.
Rafael Morais Chiaravalloti, biólogo e mestre em Desenvolvimento Sustentável. Autor do livro “Escolhas Sustentáveis: discutindo biodiversidade, uso da terra, água e aquecimento global” e colaborador de revistas da área de Sustentabilidade. e-mail: rafaelmochi@gmail.com
Referências Bibliográficas:
Exame / Maiores e Melhores. 36ª edição dos Maiores e Melhores. Editora Abril. 2009
Guia Exame Sustentabilidade 2009. Os destaques da pesquisa. Editora Abril. 2009
Mebratu, D. Sustainability and Sustainble Development: Historical and Conceptual Review. Environmental Impact Asses Review, 18. 1998.
Smeraldi. O novo manual de negócios sustentáveis. São Paulo: Publifolha. 2009. 204p
5 Comments
Claudia Chow
“Pode-se concluir que mais de um terço das empresas que se consideravam sustentáveis, não conseguiram sequer participar por não responder perguntas simples sobre algumas atividades.” 69 empresas nao conseguiram responder o questionário, isso não dá 1/3 de 210.
Rafael Morais Chiaravalloti
Verdade Cláudia – troquei para “quase”. Já que dá 32,8%. Brigadão!
admin
Olá Cláudia, obrigado pela observação e por seu comentário, volte mais vezes por aqui, no blog! Abraços =)
Eduardo
Bom dia; Sou portador de uma tarefa de terra a qual ja tem plantada em cacau e bananeiras. Preciso saber se com este pequeno espaço de terra o qual passarei a exploralo poderei adquirir algum incentivo por parte do Governo? …
Antonio Gabriel Cerqueira Gonçalves
Olá Eduardo, bem-vindo ao Diário do Verde, obrigado pelo seu comentário. Recomendo que acesse o seguinte link: http://www.brasil.gov.br/fale-com-o-governo para maiores informações. Abraços!