“Terra cabocla, terra pequena, cheirando a flor, cheirando açucena.
Igual teu cabelo, dona Maria, minha mãe morena, ooi.
Lá do rio Jarí, lá do Xapurí, lá de Icoaracy, lá do Xapurí” (Xapurí do Amazônas, Nazaré Pereira)
Muito frequentemente os discursos destoam da prática. Muitas vezes praticamos com prazer e desenvoltura, inconcientemente, a erudita, enfadonha e tediosa teoria. Este ano dentre minhas leituras obrigatórias e de lazer, tive em minhas mãos dois livros co-relacionados: um do Zeunir Ventura sobre o caso Chico Mendes (Chico Mendes – Crime e Castigo) e um de Michael Löwy (Ecologia e Socialismo).
Doutorado pela Sorbone, Löwy discute neste livro questões relacionadas à ecologia e meio ambiente presentes nos discursos de Marx e Engels e as idéias fundamentais do Socialismo. Trata-se de “uma tentativa original de articular as ideias fundamentais do socialismo de Marx com os avanços da crítica ecológica, visando o combate por uma nova civilização”. Desta tentativa brota a noção de Ecossocialismo.
Enquanto isso lá nos confins do Acre na década de 60, no Xapuri, um seringueiro conhece os ideais marxistas através de um veterano comunista: Euclídes Fernades Távora antigo tenente e partidário de Luís Carlos Prestes, com quem esteve preso em Fernando de Noronhra. Este jovem era Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes.
Nesta época Chico Mentes busca diversas forrmas de lutar pela preservação do meio ambiente e sustentabilidade do trabalhador rural. Envolve-se em movimentos sociais, empartidos políticos. E junto com seus companheiros seringueiros e sindicalistas inaugura uma nova forma de luta não-violenta e inédita no mundo: os Empates. Centanas de seringueiros e seus familiares de mão dadas se postavam diante de grandes maquinários e jagunços com a finalidade de impedir a derrubada da mata porordem de madereiros ou criadores de gado. Nem sempre obtinham êxito. Outras vezes conseguiam inclusive adesão à causa destes “desmatadores” (em sua maioria trabalhadores como os seringueiros). O sucesso dos Empates renderam notoriedade a Chico Mendes. Mas também foram a gota d’água que resultou em seu assasinato.
Neste processo Chico Mendes afirmava: “Descobrimos que para garantir o futuro da Amazônia era necessário criar a figura da Reserva Extrativista como forma de preservar a Amazônia. (…) Nós entendemos, os seringueiros entendem, que a Amazônia não pode se tornar um santuário intocável.” Logo, compreendia que deveria haver uma forma racional de utilização dor recursos naturais sem esgota-los.
Possívelmente nesta época em que sua notoriedade lhe levou aos quatro cantos do mundo para falar desta luta que Chico diz a sua companheira Marina Silva (que viria e se tornar Ministra do Meio Ambiente no futuro): “Nega velha, isso que a gente faz aqui é ecologia. Acabei de descobrir isso no Rio de Janeiro“.