Muitas pessoas dizem que diante da crise ambiental que vivemos não há mais espaço, ou tempo, para trabalhos teóricos ou de ciência básica. A justificativa é que estudar moscas parasitas de morcegos, tamanho da mandíbula de percevejos ou a temperatura interna dos tamanduás bandeira nunca irá ajudar a conservar a biodiversidade ou poderá trazer as bases para modelos de desenvolvimento sustentável.
No entanto, depois que uma pesquisadora estudou a temperatura de tamanduás bandeira (Myrmecophaga tridactyla) no Pantanal, percebeu que eles apresentam alguns graus abaixo do normal. Com o seguimento dos estudos, conseguiu compreender que embora eles vivam em áreas mais abertas (como cerrados), no ápice do dia os tamanduás têm que se esconder em regiões de florestas mais fechadas, como, por exemplo, margens de rios. Sem essas áreas, os tamanduás podem morrer de insolação. Com isso, podemos supor que se o novo código florestal for aprovado e tais áreas forem reduzidas á cinco metros (como previsto), os tamanduás bandeira de grande parte do país serão extintos. Um belo exemplo da importância dos estudos de base e dos equívocos desse novo código florestal.
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Rafael Morais Chiaravalloti, biólogo e mestre em Desenvolvimento Sustentável.
Livro: “Escolhas Sustentáveis: discutindo biodiversidade, uso da terra, água e aquecimento global” com Cláudio Pádua, Editora Urbana, 2011, 169 p.
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