“A culpa é da mentalidade
Criada sobre a região
Por que é que tanta gente teme?
Norte não é com M
Nossos índios não comem ninguém
Agora é só Hambúrguer
Por que ninguém nos leva a sério ?
Só o nosso minério.”
(“Belém-Pará-Brasil”, Mosaico de Ravena)
Nas últimas duas décadas (de forma mais efetiva) a região amazônica passou a ser novamente a bola da vez no cenário. Ora por questões estratégicas (econômica ou de segurança), ora pelas questões ambientais de sempre (desmatamento, grilagem de terra, mineração, etc, e os problemas sociais decorrentes de seguidas políticas públicas nem sempre bem sucedidas). Mas estamos vivendo.
Recentemente noticiam que Norte e Nordeste são as regiões mais violentas do Brasil. “Como assim?!” Pode parecer que seja indignação de minha parte, por ser nortista, caboclo amazônida, paraense e papa-chibé. Mas… para quê Guarda Nacional? Apenas estou questionando.
Trago o tema em função da morte do casal de líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo. O caso é emblemático, como o de Dorothy Stang, os colonos da Curva do “S”. E alista dos marcados para morrer é extensa. Mas do que a violência que a mídia gosta de enfatizar, deveriam se ater as origens sociopolíticas deste conflito, que na sua essencia é uma luta pela qualidade sustentável do meio ambiente em consonância com condições dignas de vida. Ainda fugimos de comentários jocosos de que aqui seria “terra de Malboro”.
Bom, os assasinatos no campo são fatos (inclusive os por “encomenda”), e contra os fatos não há argumento. Contudo volto a lembrar o que aprendi com a Profª Maria Amélia Azevedo, a como não brincar com estatísticas. Pensando de modo simples como as crianças, vejo estes noticiários como aquelas propagandas de cursinhos pré-vestibulares: “80% de aprovação!”, “aprovação de 75% em todos os cursos!”. Se um desses cursos possui 200 alunos e apenas 45% são aprovados, isto equivale a 90 alunos. Certo!(?). Agora se outro curso possui 100 alunos e aprova 60%(!) destes na prova de vestibular, isto equivale a 60 alunos. Certo!(?). Pergunto: quem aprovou mais alunos?
As estatísticas, embora significativas, são apenas números se não forem interpretadas de modo contextualizado e com bom senso. Continuo a questionar: Como a região Norte, e nosso vizinho Nordeste, podem ser estatisticamente mais violentos que outras regiões do país? Senão cito:
“A população brasileira se estabelece de forma concentrada na região Sudeste, com 80.364.410 habitantes; o Nordeste abriga 53.081.950 habitantes, o Sul acolhe cerca de 27,3 milhões, além das regiões menos povoadas, região Norte com 15.864.454 e Centro-Oeste com pouco mais de 14 milhões de habitantes.
A irregularidade na distribuição da população fica evidente quando se analisa alguns dados populacionais de regiões ou Estados. Somente o Estado de São Paulo concentra cerca de 41,2 milhões de habitantes, sendo superior ao contigente populacional das regiões Centro-Oeste e Norte juntas.” (Grifos meus)
(Fonte: http://www.brasilescola.com/brasil/a-populacao-brasileira.htm)
Neste sentido tenho uma perspectiva foucaultiana nos meus questionamentos. Ao invés de me perguntar porque há violência no campo, pergunto porque insistem em dizer que, por estas bandas o povo resolve as divergências na bala. E grande parte delas feitas artesanalmente. Não são semi-automáticas, AKs 47, fuzis militares, granadas, morteiros entre outros artefatos dignos de guerras civis. Talvez seja como diria Eduardo Galeano num de seus contos em que o índio diz ao colonizador que quer seduzi-lo para ter suas terras: “Onde o senhor coça, e coça bem, não coça.”
A luta pela terra é grande, desde tempos imemoriais, dos tempos das caravelas. É assim em Gaza, Ruanda, e aqui também. Há dados que informam que a terra grilada no Estado do Pará equivale a outro Estado do Pará. A agroindústria, industria de minérios, madeireiros, políticos, etc. Todos querem usufruir, já que disseram que no Brasil “em se plantando tudo dá”. Explorar é a palavra de ordem. A “modernidade” avança a largos passos.
E o cidadão do campo e da cidade (e aqueles que ainda se sensibilizam), em meio a torrente de fatos, dão as mãos no “Funeral de um Lavrador”, mas seguem a luta do dia-a-dia.
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