Discutir sobre meio ambiente pode passar por diversas teorias complexas. No entanto, o ponto de vista mais interessante que encontrei nos últimos tempos foi em um e-mail, sem procedência, com o nome “Pérolas do ENEM” (Exame Nacional do Ensino Médio). Segundo o e-mail, o aluno escreveu na sua redação a seguinte frase “Não devemos preservar o meio ambiente e sim ele todo!”. O que em um primeiro momento parece uma frase um pouco estranha, ela carrega muito mais informação do que apenas um trocadilho infame.
O termo meio ambiente é proveniente da palavra em inglês environmental que por sua vez se originou de environnement em francês. Em sua origem, esse termo foi criado com um sentido amplo e, por sinal, bem interessante. A ideia era criar um termo que pudesse representar as interações entre as percepções do mundo exterior de acordo a percepção pessoal, e de que homem e natureza estão conectados (Hertz 1997). No entanto, a apropriação do termo pelas ciências cartesianas e positivistas lhe impôs uma restrição: impediu-se que ele abarcasse ao mesmo tempo o sujeito e o objeto, chegando a nossa definição mais comum: “qualquer condição ou influência situada fora do organismo, grupo ou sistema que se estuda” (Raport, 1978, 25).
Os que se utilizam da língua portuguesa ao traduzir o termo environmental tentaram não ficar restrito a um conceito de suporte físico denotado pela ideia positivista. Ao invés de apenas traduzirem o termo para “ambiente”, no qual seria o caminho natural, colocaram a palavra “meio” no inicio, traduzindo para “meio ambiente”. A palavra “meio” realmente tem uma abrangência maior que “ambiente”, entretanto, ela também tem a mesma conotação de suporte físico (Hertz 1997). O resultado foi que o termo “meio ambiente” é redundante. Esse é o típico caso em que a emenda saiu pior que o soneto, e o problema da desconexão entre homem e natureza não foi resolvido.
Assim o pseudo-aluno do e-mail “Pérolas do ENEM” conseguiu agregar (intencionalmente ou não) em uma simples piada uma importante crítica sintática sobre um termo que parece simples, mas carrega definições redundantes e de desconexão entre homem e natureza.
Rafael Morais Chiaravalloti, biólogo e mestre em Desenvolvimento Sustentável. Autor do livro “Escolhas Sustentáveis: discutindo biodiversidade, uso da terra, água e aquecimento global” e colaborador de revistas da área de Sustentabilidade. e-mail: rafaelmochi@gmail.com