Dizem que as mulheres preocupam-se com beleza, amor, filhos, família, que são delicadas, emotivas. Porque esta é a sua natureza. Dizem dos homens que são fortes, duros, insensíveis, práticos, destemidos e competitivos. Porque esta é a sua natureza. Tal ideia pressupõe que há uma natureza humana universal.
Conforme Marilena Chauí, “dizer que alguma coisa é natural ou por natureza significa dizer que existe necessária e universalmente como efeito de uma causa necesária e universal” (in Filosofia. Ed Ática. p. 124)*. A causa que ela se refere é a Natureza, a qual não depende da ação ou intenção do ser humano, como destes não depende a lei gravitacional ou a fotossíntese por exemplo.
Contudo as pretensões humanas (em seus egoísmos e narcisismos exacerbados) promovem através dos meios de comunicação de massa um discurso de inversão de valores e julgam que a Natureza nos deve servir. O mundo está aí para nosso usufruto e prazer.
Em matéria do Fantástico (Rede Globo) da semana passada (salvo engano), discutiu-se a possibilidade (real ou imaginária) do homem ter criado (acidentalmente ou pesquisando?) equipamentos e maquinários capazer de alterar condições climáticas e geológicas, cuja finalidade original tenha se confundido, quem sabe, com fins militares (?). Agora a formação de nuvens em linhas estranas no céu, tempestades fora de época, tremores de terra ou qualquer mudança no clima ou no solo estão sob suspeita. Teorias de conspiração e paranoias a parte, revigora-se os tempos da Guerra Fria, que nesta versão mais atualizada pode não ser tão fria assim e cheia de efeitos colaterais. Se eu não gosto daquele povozinho do leste mando uma seca assolar seus campos, afogo suas cidades numa tsunami, os do sul arraso seu litoral com um tufão, demolimos seus prédios com tremores de terra, desmantelamos seu sistema de energia com raios, cobrimos seu céu com cinzas vulcânicas. Aquele pessoalzinho do oriente tá incomodando, despeja-se mais CO2 na sua atmosfera.
Ainda existe a grande ilusão de que a Ciência é neutra, isenta e imparcial. Criou-se uma perigosa inversão de conceitos e valores, ideias e intenções. A guerra que se trava tem sido contra a Terra. Emitimos mais gases poluentes, despejamos mais lixo, exploramos (exaurimos) ao máximo os recursos naturais. Como diz nosso colega Rafael Morais Chiaravalloti, estamos acelerando o processo.
Mas por via das dúvidas, a quem interresar possa, aos que pretendem tomar a Amazônia (sonho de muitas superpotências), um aviso: nós temos a Pororoca.