Eu nunca fui o melhor de nada. Sempre fiz esporte e jamais ganhei o primeiro lugar. Embora tenha estudado em mais de sete escolhas em São José do Rio Preto, jamais tive as melhores notas.
Após o colégio, mesmo com um ano de cursinho, não passei nos melhores vestibulares. Na faculdade, sempre fui mediano e, durante os meus estágios, nunca fui o mais esperto e perspicaz estudante. Inclusive, naquelas coisas que me atraiam muito, nunca consegui estar no topo de nada. No mestrado, passei em último lugar e minha tese estava longe de ser a melhor. Por isso, se fossem pelas minhas notas e pelas tantas medalhas de prata que eu ganhei, não seria selecionado para, vamos dizer, muita coisa.
Contudo, minha vida não foi tão monótona assim. Em todas as escolas que estudei, sempre fui buscar coisas diferentes, e fiz um círculo de amizade tão distinto que até hoje penso nas lições que aprendi.
Na faculdade, um pouco por falta de notas suficientes no vestibular, um pouco por escolha, fui parar em Campo Grande-MS, lugar onde poucas pessoas da minha cidade se ariscavam ir. De lá, tive oportunidade de ir para o Pantanal, e abdicando (durante quatro anos) das minhas férias e feriados, estive em muitos lugares inexplorados, tive a oportunidade de participar da captura de uma onça pintada, conhecer lugares que poucas pessoas até hoje já tinham ido, entre diversas outras coisas muito legais.
Quando terminei a faculdade, deixei a oportunidade de ficar em Campo Grande e fui me arriscar em um mestrado, pago, mas que tinha uma ideia inovadora – tornar a ciência mais prática (ESCAS). Ganhei um crédito educativo e tive a oportunidade de escrever um livro. Para isso, fui até Londres fazer estágio com a pessoa que inventou tudo em Sustentabilidade, o professor John Elkington, onde vivi experiências incríveis.
O livro foi lançado (Escolhas Sustentáveis) e, em um intervalo de quatro a cinco meses, estive em mais de 14 eventos, entre palestras e lançamentos.
Daqui há menos de um mês vou começar o meu doutorado na University College London, considerada a 4 melhor do mundo pelo QS Word University Rankings. Tudo com bolsa do Governo pelo Ciência Sem Fronteira.
Juro que não quero fazer uma promoção pessoal com essa história, pois realmente acredito que a maioria dos fatos em minha vida aconteceu por serendipidade! O que eu quero dizer com isso, é que não precisamos ser o melhor para coisas incríveis aconteceram.
A inovação acontece quando pensamos um pouco fora da caixa ou, em uma versão do poeta Manuel de Barros, quando “voamos fora da asa”. E é exatamente disso que sustentabilidade se alimenta: inovação.
Atualmente, precisamos mudar modelos mentais das organizações. Empresas devem mudar profundamente suas estruturas para atingirmos um mundo ambientalmente melhor e socialmente mais justo. Como fazer isso? Pensando diferente. Não seguir simplesmente a inércia das coisas. O mundo é cheio de oportunidades. Por que não, ao invés de apenas pensar em lucro, pensar em tornar o mundo melhor? E por que não, ao invés de montar uma ONG para fazer isso, montar uma empresa que ganha dinheiro com a melhora na qualidade de vida das pessoas e do Meio Ambiente?
Muitos poderão se perguntar: “E tem como fazer isso?” Claro! Existe até um nome para empresas assim, são as chamadas “Empresas 2,5”, pois estão localizadas entre o segundo e o terceiro setores.
Viu só! Um dia, alguém pensou diferente e descobriu que, entre o segundo e o terceiro setores poderia existir o setor 2,5. A questão crucial em sustentabilidade é se perguntar: por que não?
Eu ainda continuo não sendo o melhor em nada e, mesmo se eu começasse a fazer um esporte recém-criado, com apenas dois competidores, teria grandes chances de terminar em segundo, mas não me importaria com isso, pois o que me motiva é tentar fazer coisas diferentes. O que mais me atrai é a ideia de que, entre o “dois” e o “três”, existe o “2,5”.