Dezembro está chegando, e com ele chegam também as enlouquecidas compras de Natal. Tá, e o que a sustentabilidade tem a ver com isso?
A sustentabilidade está em cada produto que você compra, afinal você já parou para pensar de onde ele vem e para onde ele vai quando você joga no belo saquinho plástico de mercado e põe no lixo?
Assim como o futuro da Danica, a responsabilidade por tudo que você consome também é sua. E por trás de cada coisinha que você compra tem um mundo de processos envolvidos que compõem a chamada cadeia de valor.
Ela envolve a loja que te vendeu, o fabricante do produto, o fabricante das peças que compõem o produto, as empresas extrativistas que extraem a matéria prima que compõe as peças que compõem o seu produto… e por aí vai…
Vou dar uma notícia que pode machucar, mas eu vou com cuidado: para buscar a sustentabilidade hoje não basta mais só separar lixo, economizar energia, deixar de imprimir… hoje estamos falando de novos modelos de negócio.
Hoje, não podemos mais nos contentar em produtos apenas, mas sim produtos que ofereçam soluções para quem está comprando, produtos inovadores onde na relação que se estabelece entre você e a empresa todos saem ganhando. Onde isso começa? Com consumidores que pedem por isso, que pressionam e criam um novo mercado de produtos mais sustentáveis.
O que?! Uma empresa pode te ajudar a ser mais sustentável?!
Imagine que você irá comprar um celular novo, considerando que a média em que as pessoas trocam de celular é de aproximadamente 18 meses e antes que eles realmente estejam quebrados. Bom, você vai na loja, pega a senha, espera, espera, espera, compra, volta e joga o seu celular antigo na gaveta, porque um dia você sente que vai precisar dele. Sério? Você acha mesmo que vai usar todos esses aparelhos antigos que estão aí? Até esse Nokia azulzinho que você era viciado no joguinho da cobrinha?
Essa troca frequente de aparelhos eletrônicos promove um alto consumo de recursos, poluição e lixo. Não importa se ela é estimulada pela evolução da tecnologia, pela vaidade das pessoas ou pelas estratégias de aumento de vendas, os efeitos serão os mesmos.
As empresas precisam cada vez mais entender que a responsabilidade pelos produtos, além de sua também é delas, é compartilhada.
Agora, imagine se na hora da compra, você ganhasse um bom desconto para deixar o seu celular antigo na loja? Ele poderia ser destinado para a reciclagem correta, evitando novas extrações de recursos e conflitos que talvez você nem saiba que aconteçam, como as guerras no Congo (onde a busca por minérios para celular patrocina uma guerra pela qual já morreram cinco milhões de pessoas e onde pelo menos 300.000 mulheres já foram violentadas).
Quando há estímulo, as pessoas agem de forma mais sustentável e esse é o ponto. Precisamos lutar por cadeias mais sustentáveis e as empresas podem sim deixar de ter só o papel de oferecer produtos e passarem a oferecer soluções para os problemas que estamos enfrentando.
O problema, nem sempre vai estar na troca do aparelho, pois várias vezes ela pode trazer benefícios que compensam o impacto, como eficiência energética (pense no caso das geladeiras antigas).
A maior preocupação aqui não é a rápida obsolescência, mas os danos ambientais que ela pode causar. Ciclos de vida de produtos tradicionais requerem matérias-primas a serem extraídas da terra, que serão então processadas e transformadas em produtos finais, que são em última análise, usados e descartados. Neste sistema, a obsolescência do produto significa mais rápida extração, mais produção e mais lixo.
O foco deve ser no desenvolvimento de produtos que levem menos material na sua composição, menos energia no processo de produção ou utilização de materiais mais sustentáveis (recicláveis ou que demorem menos tempo para se decompor na natureza).
Você tem amigos designers? Eles têm um grande potencial de lutar por isso, criando conceitos de produtos difíceis de quebrar e fáceis de consertar, com possibilidade de substituir apenas um item como a bateria, ao invés de trocar o aparelho inteiro, aparelhos que se consiga reutilizar e reciclar os componentes de forma fácil.
Como isso sai do mundo dos designers e chega aos consumidores?
Através de atitudes das empresas. Programas de descontos se você não trocar de aparelho naquele ano, assistências técnicas com preços que compensem arrumar o celular, planos de buy back, onde você entrega o seu celular antigo e ganha qualquer tipo de desconto na compra do novo.
No novo mercado, a fidelidade do consumidor por acreditar no valor da empresa, tem potencial de valer muito mais que essa compra irresponsável. Em geral, as pessoas vão comprar de qualquer maneira, por que não possibilitar um consumo mais sustentável?
Chega de passar mais um ano escutando o CD da Simone, reclamando e pensando que não podemos mudar nada, que é uma conspiração e que as empresas vão dominar o mundo. Esses monstros corporativos são formados por pessoas, como eu e como você e todos os seus amigos que só precisam de ideias inovadoras, que precisam de demanda para desenvolverem essas novas ideias. Essa demanda, quem cria são os consumidores. Somos nós.
É só trocar o CD que está tocando. Que música você quer ouvir neste natal?
Mude a música, mude o mundo.
Referência: The Sustainability Opportunity in Product Obsolescence – Marshall Chase.
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Luisa Haddad, bióloga.
Site: Café com Sustentabilidade
E.mail: lu.haddad@yahoo.com.br
Twitter: @bioluisa
2 Comments
Christian
Parabéns pelo texto. É fundamental esse tipo de blog, preocupado em passar a diante e divulgar conceitos e ideias básicas para a sustentabilidade. Acredito que a esperança é essa aí, de um novo modelo de mercado. Li (não lembro a onde) sobre uma tese que propunha um modelo de mercado, onde no futuro pagaríamos pela “licença” de ter uma tv, e não pelo produto, sendo necessário devolve-la para trocar por um novo modelo.
Parabéns mais uma vez. Um abraço
Antonio Gabriel Cerqueira Gonçalves
Muito obrigado Christian, por seu reconhecimento. É muito gratificante receber um comentário como o seu, ele demonstra, assim creio, que nós estamos no caminho certo! Volte mais vezes aqui, o Diário do Verde está de portas abertas ^^