A cidade São Paulo está em alta em função da SP 2040, uma iniciativa inovadora que você pode conhecer clicando aqui.
Mas hoje o assunto que vamos falar, apesar de também estar sempre em alta, está longe de apresentar qualquer inovação. Começam as chuvas de verão e com elas vem também o caos na cidade de São Paulo. Afinal, por que São Paulo alaga?
Está disponível na internet um filme interessante que tenta nos mostrar que, apesar de não vermos mais, São Paulo se desenvolveu em função dos seus rios. O vídeo aborda como o fato de não os termos respeitado, se tornou um dos principais motivos para os problemas que enfrentamos hoje, como congestionamentos e enchentes.
Através de depoimentos, fotos e fatos, recompõe o cenário da cidade antes da urbanização, desvendando a origem e os reais interesses de ações como a retificação e canalização dos rios, além da destruição das áreas de várzea. Passo a passo vai percorrendo a história e mostrando como a mudança de cenário foi acontecendo.
Os rios, que antes eram a base, passaram a se tornar barreiras para o crescimento da cidade. E assim foram da liberdade para o cano. Pagaram a conta das reformas urbanas.
Em função de divergências políticas, São Paulo dispensou a manutenção de suas áreas de várzea, que absorviam a água da chuva e implantou um plano de avenidas, que ignorou qualquer outro meio de transporte (como ferrovias e hidrovias) . O resultado foi que o carro se tornou a peça chave no discurso de modernização.
Para cada nova obra viária, nova canalização e o espaço das águas se tornou o espaço dos carros.
O vídeo tenta mostrar como chegamos até aqui e o que precisa mudar para que consigamos sair desse ciclo vicioso de obras, onde os investimentos emergenciais são sempre tão pontuais, que não permitem que a cidade tenha um planejamento urbano de longo prazo. Precisamos de uma nova geração de profissionais que tenham como foco, um novo planejamento do espaço urbano. Citando Peter Drucker:
O planejamento de longo prazo não lida com decisões futuras, mas com o futuro de decisões presentes.
A retificação dos rios causa um aumento da velocidade do fluxo, que inicialmente era a intenção: levar o lixo e o esgoto para longe em menos tempo; e a canalização é a tentativa de esconder a sujeira e conter uma força da natureza. A água procura onde se infiltrar e para onde correr. Se o solo não é permeável ou não apresenta espaços que ela possa ocupar, ela vai tomar a cidade. E dá-lhe enchente pra todos os lados..
E parece que só assim para que os rios sejam lembrados.
Precisamos de calçadas e telhados verdes, de reservatórios, de solo para absorver toda essa água. A política fragmentada que temos hoje, leva a uma série de consequências e nós, os cidadãos e a cidade, pagamos um preço alto.
Estima-se que o Brasil perca 6 bilhões por ano nas enchentes. Quanto mais terá que ser gasto para que se entenda que é o esgoto que precisa ser canalizado e não os rios? A instalação de interceptores para impedirem que o esgoto caia nas águas dos córregos e rios é uma medida urgente. Não se trata de discurso ambientalista, isso é inteligência. Não adianta limpar o rio, se não se investir em obras de saneamento para acabar combater a causa da poluição.
Propostas de revitalização dos rios já são realidade no mundo. Neles, busca-se restaurar suas margens, limpar suas águas para que a sua função ecológica seja reestabelecida. A ideia é que os rios deixem o papel que lhes foi dado de escoamento de água e esgoto e assumam sua responsabilidade ambiental original, seguindo o seu caminho naturalmente e transformando o caos em lama – uma lama no seu lugar certo, na beira do rio.
*Artigo publicado originalmente na Folha Online em 26/05/2o11.
Luisa Haddad, bióloga.
Site: Café com Sustentabilidade
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