Usina hidrelétrica é uma ideia muito boa. Proveniente das aulas de física de segundo grau, o principio básico é transformar a energia potencial dos desníveis das águas em energia elétrica. Uma tecnologia simples que não emite carbono, como na queima dos combustíveis fósseis, não produz resíduos altamente tóxicos, como na usina nuclear, e além de tudo é altamente eficaz (a eficiência energética é em torno de 95%). Por esse motivo o Brasil é um grande entusiasta de usinas hidrelétricas.
No entanto, se fossem apenas maravilhas, elas não seriam um assunto polemico – até mais que mamilos. Os problemas relacionados à construção de hidrelétricas são muitos, e podem sobrepor a suas vantagens. Primeiramente há necessidade da formação de um grande lago e a consequente inundação da parte lateral do rio (na usina de Porto Primavera, por exemplo, o tamanho do lago é praticamente do tamanho de Luxemburgo). O problema é que é nessa região que estão as suas maiores riquezas – chamada várzea do rio. Por causa dos ciclos de inundação que ocorrem durante o ano, a quantidade de nutrientes nesses locais é imensa, e consequentemente há uma riquíssima biodiversidade. Ou seja, com a formação do lago toda a biodiversidade local é suprimida (um jeito mais técnico de dizer morta). Além de que, em razão do solo fértil, muitas populações ribeirinhas vivem nessa região, e, uma vez inundada, eles terão de ser deslocados para outras áreas. Na verdade podemos ficar descrevendo problemas até a próxima aparição do cometa Halley.
No resumo, assim como todas as questões polemicas, existem grandes vantagens e grandes desvantagens. E para discutir sobre a validade da instalação de uma hidrelétrica é preciso pesar as questões ambientais e sociais junto com os argumentos técnicos. No caso de Belo Monte, realmente é um belo monte de problema.
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Rafael Morais Chiaravalloti, autor do livro Escolhas Sustentáveis.
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3 Comments
Emmanuel Almada
Sobre Mamilos e Hidrelétricas,
Hidrelétricas são de fato um assunto extremamente complicado, mas a polêmica em torno de sua construção tem efeitos bem mais catastróficos que qualquer celeuma em torno de mamilos. Uma primeira correção importante é que as hidrelétricas são sim uma fonte importante de emissões de carbono (vejam por exemplo, um estudo de PHILIP FEARNSIDE em http://philip.inpa.gov.br/publ_livres/mss%20and%20in%20press/springboard-port-inpa.pdf).
Além disso, penso que, como todos os grandes projetos de “desenvolvimento”, as usinas hidrelétricas representam o conflitos entre formas alternativas de apropriação do território por diferentes grupos sociais. O problema de Belo Monte não é puramente de ordem técnica e sim política. Belo Monte é um projeto dos anos 80 ressuscitado pela onda desenvolvimentismo deste inicio de século. O que está em jogo em torno da matriz energética adotada pelo Brasil é o projeto de sociedade hegemônico, pautado na concentração de recursos e silenciamento das alternativas a própria idéia de desenvolvimento.
As perguntas realmente importantes são: Quem se beneficiará de Belo Monte? Quem sairá perdendo (além da inquestionável dizimação da biodiversidade local)?
Creio que a busca da sustentabilidade socioambiental do país tenha que ir além (e muito além)do debate da viabilidade técnica dos grandes projetos. Até porque a inviabilidade técnica demonstrada nos laudos não tem sido suficiente para barrar a sanha dos projetos políticos dos grupos econômicos que detém o poder político no Brasil.
Antonio Gabriel Cerqueira Gonçalves
Emmanuel, muito interessante suas considerações, grato por partilhar aqui no blog. Usinas Hidrelétricas, no caso do Brasil, são interessantes, pois há grande oferta de água e o custo é baixo. Impactos ambientais, existem, mas são menores em comparação a outras fontes de energia, como a Nuclear e a Termoelétrica.
Sobre a política, que deveria ser um meio para auxiliar o povo, infelizmente, demonstra-se totalmente o contrário: faz-se um verdadeiro entrave para o desenvolvimento sustentável do nosso país. Belo Monte é um grosseiro exemplo disso: um ato incompetente e desnecessário. Código Florestal… e por aí vai.
Rafael Morais Chiaravalloti
Olá Emamanuel!
Primeiramente muito legal seu comentário, já corrigi sobre a emissão de CO2. Para minimizar essa emissão, muitas usinas, antes do inicio de suas atividades, desmatam toda a área que será inundada. Com isso o problema da emissão fica menor, embora não cesse.
Outro ponto importante que vc citou foram as questões políticas, com certeza, elas ditam a maioria das ações.
Mas como sociedade civil organizada, temos o dever de lutar.