Vire e mexe ganho uns “agrados” (presentes) dos usuários que acompanho no centro de saúde que trabalho. Paneiros de açaí, sacos com buriti, uxi, ingá, taperebá, tucumã, cacau, manga, etc. Aromas e sabores infindáveis. São 09 anos acompanhando os dramas e vicissitudes de uma parcela da população do interior do Brasil. São crianças, mulheres e todos que buscam algum auxílio ou conforto para as mais diversas enfermidades. Escuto a todos. Embora, as vezes, por mais parco que me pareça ser este gesto, o “pouco” que lhes ofereço é tudo o que eles mais precisam. E mostram-se incrivelmente gratos e em dívida comigo, por algo que nada mais é que um dever, uma obrigação e compromisso profissional. E muitos acham que é um favor, inclusive aqueles que sabem que não o é.
Mas hoje lembrei-me em especial de um destes “agrados” que recebi de um dos usuários: uma réplica artesanal de um típico barco da Amazônia. Em escala reduzida, com motor de bobina e pilha (também artesanal), com hélices e leme móveis, todo confeccionado em miriti, e utilizando tampas de refrigerante, partes de canetas esferográficas e barbante. O usuário/artesão é um adolescente portador de transtorno mental.
Esta é uma das muitas brincadeiras das crianças daquela comunidade ribeirinha e Amazônidas.
Não se sabe ao certo como e quando iniciou-se a utilização do Miriti como matéria artesanal. Sabe-se porém, que há pelo menos 200 anos ele tem sido utilizado para se confeccionar brinquedos. Estes são populares e em geral aparecem durante as festividades religiosas como o Círio de Nazaré, que atrai milhões de devotos ao Estado do Pará. E assim ele vai avançando nas décadas como protagonista versátil e importante instrumento para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Uma vez que dele muito se aproveita:
“Tem várias utilidades. À margem dos roçados e seringais fornece a palha para cobrir cabanas. Do broto ou grelo tira-se a envira, fibra que serve para tecer maqueiras (redes artesanais), tapetes e bolsas. A tala, tirada das folhas, fornece meios para os artesãos tecerem paneiros, tipitis, cestos, balaios e, ainda, para esculpir brinquedos de formas variadas, como cobras, pombinhas, soca-socas, barcos, araras, jacarés e tatus, entre outros. A fruta, o miriti, é fonte de alimento vitamínico, degustada com farinha e açúcar. Dela são feitos licor e vinho, servindo também para aguar o tradicional mingau de farinha-d’água ou arroz. Do fruto ainda se extrai a tinta para pintar brinquedos e quadros originais“. (Fonte: http://www.cdpara.pa.gov.br/miriti.php)
E mais recentemente seu fruto tem sido utilizado amplamente pela indústria cosmética.
Então lembrei-me também do artigo “Defina Sustentabilidade em 7 palavras“, do nosso colega Rafael Morais Chiaravalloti, e me pergunto se os professores compreenderam a resposta!