Diante do mistério que há
nessa nossa vida humana,
vais crescer mais que o luar,
vais voar mais que as semanas,
vais sorrir pro revelado,
fruto da emoção na boca
de que tudo é amarrado
e o mundo é um, é oca.
(Círios, Vital Lima)
Este final de semana no Pará é marcado pela grande manifestação religiosa do Círio de Nazaré. Sendo esta a “mais grandiosa festa do Pará e um dos maiores acontecimentos religiosos realizados anualmente no território brasileiro”, apresenta números impressionantes. O evento reuni cerca 2,2 milhões de pessoas, em média cerca de 70 mil turistas, que “atraídos para a capital paraense neste período da festividade, composta por 11 romarias e que, juntas em procissão, reúnem mais de 4 milhões de pessoas”. Para o o DIEESE, os dados indicam que aproximadamente US$ 25 milhões são gastos no Pará pelos visitantes durante este período da festividade. Tudo isto em três dias.
Tenho escrito com frequência sobre lixo nesta coluna (Estamira, Lixo por todos os lados, Urubuservando a situação, Futurama, Fake plastic trees). Continuo a me preocupar com o que se deixa para trás, o lixo.
É lindo o encontro das simbologias amazônidas e a fé em Nossa Senhora de Nazaré, o mar de gente, o povo cantando, as velas na noite da transladação, o almoço em família, o Auto do Círio, a Festa da Chiquita (Veja o documentário “As filhas da Chiquita“). Mas…
“Romeiros geram 480 toneladas de lixo” (Manchete de jornal, 16.10.2007)
“Mais de 480 toneladas de lixo foram recolhidas durante a Trasladação e o Círio de Nazaré. Desse total, 300 toneladas foram produzidas somente na procissão de domingo, conforme a SESAN (Secretaria Municipal de Saneamento)”. Segundo a SESAN cerca de 60 toneladas de material reciclado também são retiradas das ruas neste período, entre garrafas plásticas, copos e latas de refrigerante e cerveja (cerveja – origem provável: Festa da Chiquita, face profana da manifestação religiosa), papel, papelão, etc. Nos dois dias de festa religiosa trabalharam mais de 1,8 mil pessoas, entre varredores e catadores de lixo de diversas cooperativas da Grande Belém. Boa parte desse material vai para o aterro sanitário do Aurá. A Divisão de Coordenação de Resíduos Sólidos da SESAN, “estima que a cada ano a produção de lixo no Círio de Nazaré aumenta em torno de 10%. No ano passado, foram recolhidas na procissão de domingo cerca de 280 toneladas de lixo, contra mais de 300 em 2007″. (Fonte: http://www.orm.com.br/projetos/cirio/2007/noticias.asp?id=294308)
O que nos preocupa é o que esta multidão enseja na libido dos comerciantes de plantão: consumo desenfreado. Fato bem citado por nossa colega Luisa Haddad em seu artigo “Steve Jobs, uma bituca e sustentabilidade“, “o estímulo exagerado ao consumo”. Se para a autora para se “optar por escolhas mais sustentáveis você precisa acreditar em alguma coisa”. Ou que “você precisa achar na sustentabilidade algo que você ame”. Em tempos de consumismo, também acreditem em mim: mesmo além do Círio de Nazaré é preciso ter Fé.