Como sua mulher, Dona Olinfa, estava precisando cozinhar os peixes que tinha pescado de manhã, Beto resolveu ir no córrego mais próximo para pegar água. Aquela região não era desconhecida para ele, e viver na Serra do Amolar – Pantanal há 24 horas de barco da cidade mais próxima, era na verdade uma vantagem. Pois seus filhos cresceram longe de quaisquer perigos da cidade, principalmente as drogas.
No entanto, nem tudo são flores nessas regiões e a vida, meu amigo, é feita de acasos. Enquanto um escolhe pegar o exato ônibus que irá conhecer a mulher da sua vida, o outro escolhe exatamente o córrego onde a onça bebe água.
Assim, quando Beto virou para trás, viu uma onça pintada na sua frente. Que embora estivesse ali apenas para matar a sede, resolveu, digamos, estender seu portifolio. Beto pulou em cima da árvore como se fosse um gato. Entretanto os verdadeiros são mais rápidos. E a onça cravou as garras nas suas costas e foi morder sua cabeça, como só esses felinos conseguem fazer. Dessa mordida conseguiu se proteger com o braço e empurrar a onça para o chão. No entanto, como, infelizmente, todos os gatos caem em pé, a onça mais de que pressa foi pular de novo em cima de Beto. Quando apareceu o cachorro que estava acompanhando o nosso amigo.
Para um bicho selvagem a regra da parcimônia sempre é valida e a presa mais fácil é sempre a mais saborosa. Assim, Beto foi substituído pelo cachorro.
Hoje ele e Dona Olinfa continuam vivendo no Amolar, um dos lugares mais maravilhosos que já visitei na vida.