Existe uma expressão que acredito que vale para muitas ações e atitudes no dia-dia, chamada “Tiro no pé”. Confesso que não sou isento de praticar tal ato comigo mesmo. Algumas escolhas na nossa vida fazem parte desse hall de ações que como um bumerangue voltam na nossa cabeça, e doem bastante. No entanto, algumas ações “Tiro no pé” afetam outras pessoas, e claro apenas pioram o problema que estamos querendo resolver.
Um exemplo desse tipo de açõe está diretamente ligado a questão ambiental. A lógica que muitas pessoas utilizam é simples: as áreas naturais estão sofrendo severos impactos ambientais, assim criam uma maneira de eliminar todos os focos de impactos ambientais naquela região, o que significa muitas vezes retirar comunidades tradicionais daquela região e criar, por exemplo, uma área protegida. Ótimo certo? Salvou uma área que estava ameaçada, parabéns garoto!
No entanto, aquelas comunidades que estavam vivendo ali irão morar na cidade mais próxima. Mesmo que recebam indenização, elas jamais foram treinadas para ter um “espírito empreendedor”, por isso, sem apoio, provavelmente irão morar nas regiões pobres da cidade. É importante enfatizar que apenas dar dinheiro para essas pessoas é o mesmo que dar um arco e algumas flechas para o Eike Batista e dizer que isso é tudo que ele precisa para sobreviver entre os pigmeus. Mesmo com seu espirito empreendedor, nosso amigo Eike não irá muito longe.
No fim, aquelas famílias deslocadas irão utilizar muito mais recursos naturais como água e energia. Nesse momento que aquele que criou o parque recebe o tal “Tiro no pé”, porque como irá aumentar o consumo de recursos, as pressões ambientais dentro daquela área protegida serão muito maiores. Por exemplo, será necessário criar uma barragem para suprir a demanda de energia. É isso ai garotão, não vale reclamar depois.
Soma-se que hoje existem muitos artigos científicos mostrando que comunidades tradicionais em áreas naturais, com incentivos corretos, podem até promover a biodiversidade. Antes de dar um “tiro no pé” vale a pena dar uma atualizada nas descobertas científicas.