A China vai dominar o mundo. Modéstia à parte, todos nós corremos sério perigo (especial destaque para o Brasil, cada vez mais aliado ao país). O que temos a ver com isso? Nossas reservas de recursos naturais são as maiores do mundo, e estão seriamente ameaçadas com o extraordinário crescimento dos chineses que demanda cada vez mais matérias-primas e energia. E assim sucessivamente. É um círculo vicioso.
Ano passado, o país ultrapassou o Japão, tornando-se a 2ª maior economia do mundo, com base no PIB. Através de uma reforma econômica que começou a ser escrita em 1978, proposta por Deng Xiaoping (Quatro Grandes Modernizações: indústria, agricultura, ciência e tecnologia e Forças Armadas) e apoiada pelo Partido Comunista, a China deixou para trás os prejuízos da Revolução Cultural até chegar a índices impressionantes de crescimento na casa dos 10% ao ano (em média), nas últimas 4 décadas (tempo preciso para ultrapassar o vizinho oriental). Daqui a 30 anos, segundo a projeção, deverá superar os Estados Unidos e se tornar a maior economia do mundo (considerando-se o valor do PIB pela Paridade de Poder de Compra, isto poderá ocorrer cerca de 15 anos antes). Não há meio ambiente que aguente deste jeito!
De todos os mais de 200 países existentes, não há nenhum que chame e necessite de atenção como a República Popular da China. A nação é uma superpotência emergente ao que parece, fora de controle, que desafia todos os limites imagináveis e inimagináveis possíveis da mente humana. Sua mão-de-obra é barata, sua população uma das mais pobres do mundo, o ambiente pressionado até a última gota. Um país que segue e insiste principalmente no padrão do desenvolvimento econômico insustentado, uma velha, antipática e burra visão de mundo: a Economia X Meio Ambiente, como se as duas coisas não tivessem relação em comum, o que não é verdade. Eis a fórmula que fez com que os Estados Unidos, com pouco mais de 300 milhões de habitantes, tornasse-se o “país mais poderoso do mundo”, em contrapartida, tudo isto as custas de acabar com sua natureza e de outros muitos países ao redor do mundo, causando danos irreparáveis para a população local e qualidade de vida em geral. O sonho tornou-se um grande pesadelo: tem dinheiro mas não como aproveitá-lo. Vamos aplicar agora, este mesmo conceito, só que ampliado para 1 bilhão e 300 milhões de pessoas – a população total da China, que representa mais de 1/5 da escala global. Se todas estas pessoas seguirem o padrão sedentário e degradante estadunidense, onde é que nós iremos parar? O documentário “The Story of Stuff” (A História das Coisas), exemplifica melhor este meu comentário.
Alguns números referentes ao país, mostram claramente o padrão insustentável seguido pela economia socialista de mercado (sistema vigente):
Ambiente:
– 3° maior país do mundo em território, a China ocupa uma área de 9,573 milhões de km². Detém em seu território uma das maiores florestas remanescentes do globo, conhecida como “Floresta Temperada da China”, muito devastada pela ação do homem.
– A China tem pouco gás e petróleo, mas é dona de 13% das reservas mundiais de carvão e de metade do consumo global desse combustível superpoluente, cujo uso não para de crescer. O país constrói duas termelétricas a carvão por semana! Relatório do Greenpeace de 2009 aponta que a emissão de CO2 de somente três usinas elétricas da China supera a emissão total de carbono de todo o Reino Unido.
– Em 2006, a China obteve 15,6% de participação no consumo mundial de energia (atrás apenas dos EUA, com 21,4%), valor três vezes mais do que consumiram no ano todos os países da América do Sul e Central somados.
– O consumo energético chinês por combustível, de 2006, foi o seguinte: 70,2% carvão / 20,6% petróleo / 5,6% hidreletricidade / 2,9% gás natural / 0,7% energia nuclear.
– Ainda em 2006, foi inaugurada a gigantesca Usina Hidrelétrica de Três Gargantas, a maior central hidrelétrica do mundo. Ela forçou a migração de milhões de pessoas de suas casas e assim como a Usina Hidrelétrica de Itaipu (tecnicamente empatadas), causou um enorme impacto ambiental na região. A CNN diz que “para se ter uma ideia da capacidade de armazenamento desta barragem, se estivesse cheio o seu lago artificial com cerca de 10 trilhões de galões (40 quilômetros cúbicos) de água, a duração de um dia na Terra seria atrasado em 0,06 microssegundos.”
– A nação é líder mundial em emissões totais de CO2 na atmosfera (principal gás responsável pelo efeito estufa). Estima-se que as emissões de carbono na China dobrem até 2030. Ainda assim, é o país que mais gasta em energias renováveis. Em 2006, investiu 10 bilhões de dólares nessa área, um quinto de todo o gasto mundial. O motivo para isso é que, a continuar no atual ritmo de crescimento, em breve a China não terá recursos naturais próprios em quantidade suficiente para suprir suas necessidades energéticas.
Economia:
– O crescimento do PIB (a soma de todas as riquezas produzidas em um país), em 2006, foi de 11,1%, mais que o dobro da média mundial no mesmo ano: 5,4%. Em 2007, cresceu 11,4%, atingindo o maior índice em 13 anos.
– Nos últimos dez anos, as trocas comerciais da China com países africanos cresceram dez vezes, chegando a mais de 50 bilhões de dólares em 2006. Resultado que é fruto da exigência de matéria-prima energética, que leva o governo chinês a se aproximar cada vez mais da África, de onde vem um terço do petróleo usado no país.
– Os principais parceiros comerciais da China são os EUA e Japão, respectivamente e ironicamente. Em 2007, a China importou 69,4 bilhões de dólares dos EUA e exportou 232,7 US$ bilhões para os Estados Unidos. Japão: importou 133,9 e exportou 102,1 bilhões de dólares. Saldo do comércio exterior chinês neste mesmo ano: 262 US$ bilhões.
– O modelo de desenvolvimento adotado se baseia na abundância de mão-de-obra mal remunerada, na distribuição de subsídios estatais (a ajuda do governo aos produtores), na atração de investimentos estrangeiros, na instalação de fábricas montadoras (que importam peças e montam produtos) e na exportação de mercadorias baratas. Descontrolado, impõe muitas desigualdades sociais entre as populações urbana e rural, como o acesso a renda e direitos humanos. A China retirou 250 milhões de pessoas da pobreza, mas a desigualdade de renda dobrou nas últimas duas décadas e ainda há 200 milhões de pobres (que sobrevivem com menos de 1 dólar ao dia). A renda média dos 10% mais ricos do país é 12 vezes maior que a dos 10% mais pobres. Dez anos atrás, essa proporção era de apenas quatro vezes. Sem contar a desvalorização proposital da moeda, o iuan, que mantém o preço dos seus produtos “made in China” mais baixo (geralmente inadequados ao consumo e nocivos à saúde) e favorece suas exportações.
– O fenômeno chinês é recente, coisa de duas décadas. Em 1953, a fatia chinesa no comércio global era de apenas 1,2%, um terço a menos do que o Brasil exportava na época. Atualmente, 1,2% é o peso de nosso país nas exportações mundiais.
Social:
– O país vive uma série de conflitos internos, suprimidos pelo poder ditatorial que comanda o governo. Regiões como o Tibete, onde está situada a Cordilheira do Himalaia, o “teto do mundo”: Monte Everest, e as maiores reservas ambientais do país, e Taiwan, protestam e querem a independência, hipótese negada com veemência pela China. Hong Kong e Macau, são outros dois exemplos de domínio absoluto chinês, através da unificação sob a doutrina “um país, dois sistemas”. Dalai Lama (Tenzin Gyatzo [14°] – Prêmio Nobel da Paz de 1989), considerado a legítima e suprema autoridade do Tibete, segundo o vazamento de dados publicados no site “Wikileaks” no final de 2010, declarou no ano de 2009 “que o meio ambiente é mais urgente que a crise política, e que acredita que os tibetanos podem esperar mais alguns anos, a natureza não”.
– “Made in China”. O título que marca os produtos vindos do país, exportados e que inundam boa parte do planeta, cunha também a baixa qualidade (o próprio governo chinês admite que quase 20% dos produtos estão abaixo dos padrões mínimos de qualidade exigidos em outros pontos do mundo) e a fabricação que se beneficia de uma mão-de-obra que ganha salários baixíssimos e produz em condições insalubres, cumprindo longas jornadas de trabalho. Um operário em uma fábrica de eletrônicos nos EUA ganha 20 vezes mais que um chinês que faça hora extra todos os dias e também trabalhe aos sábados e domingos.
– A população sofre com o regime burocrático e autoritário que rege a República Popular da China, sendo que a censura dos meios de comunicação, é algo “normal” por lá. Um episódio a se destacar é o da empresa Google, gigante das comunicações que por ora entra em conflito por sua operação e seus termos de pesquisas no país. Podemos destacar o “Massacre da Praça da Paz Celestial”, assunto que é expressamente repreendido em toda a China. A Liberdade de Expressão é zero, e ai de quem contestar o regime.
O que você acabou de ler é uma sinopse do que acontece nos dias atuais no outro lado do mundo, através de critérios que abrangem o conceito da sustentabilidade. Através de uma visão panorâmica, dá para se concluir que somente a Economia está sendo considerada pelos líderes chineses, e o Ambiente e o Social, descartados e deixados para escanteio.
Na página oficial do governo chinês (em inglês), não faltam dedicatórias para ações no meio ambiente (leis e afins), porém na prática, está ainda muito a dever. Os investimentos podem ser recordes, mas os desgastes no campo ambiental, são infinitamente superiores. Relatório do Banco Mundial, divulgado em 1998, mostrou que 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo ficam na China (culpada por parte da poluição atmosférica no Japão e nas Coreias); os rios do norte do país estão secando (situação atribuída ao uso abusivo de suas águas e à profusão de represas), e por aí vai… Problemas em cima de problemas.
No social então, existe uma situação estressante. Muita gente, para pouco espaço, em péssimas condições de sobrevivência. Você provavelmente deve ter ouvido falar sobre a “política do filho único”, que existe no país. Somente um filho é permitido, exceto geralmente quando o primeiro for mulher (daí é permitida uma “segunda tentativa”: filho homem é uma exigência cultural muito apreciada entre os chineses) ou se o casal for proveniente do meio rural. As mulheres são discriminadas friamente em todo o país, e ainda há relatos de pais que rejeitam ou mesmo assassinam suas filhas. Para você, isto é progresso?
O dragão que cospe fogo está perdendo fôlego, e corre o risco de parar de respirar, se nada for feito a tempo de reverter este verdadeiro “mergulho para o abismo”. O alerta está dado, quem quiser que ouça, bote fé e pressione o governo da China a fazer o seu trabalho direito, representando o povo e atendendo as suas necessidades, antes que seja tarde demais. Uma verdade inconveniente.
Referências:
Mídia Digital
BBC Brasil; Eco4Planet; Último Segundo – IG e Wikipédia.
Mídia Impressa
O Estado de São Paulo; Guia do Estudante: Atualidades Vestibular – 1° Semestre de 2008 e Revista Superinteressante – Edição Verde 2009.