Transcrevo:
“A este universo de água e de terra, de rio e de selva, chegou o homem. É recente a sua chegada. Só há dez mil anos, já sabem os cientistas, chegaram os índios à Amazônia e dela fizeram a sua morada. É portanto esse o tempo de sua fundação, do seu verdadeiro começo: o homem chegando para permanecer e para amar “ (p. 83).
“Da história desse homem primitivo, que dizer, o que chegou primeiro, mais adiante um pouco eu vou contar. Assombroso contar. Porque é quase nada o que dele ainda resta, escondido nos longes espessos da selva, agarrado ao sol de sua inocência” (p. 84).
“Depois outros chegaram. Os chamados brancos, com a cruz e o arcabuz, e o sangue que ia ajudar a compor uma nova etnia, ao longo de quatro séculos de aventura humana. Aventura que se prolonga, ainda hoje, marcada pelo signo do desamor. Só que mais feroz. Extração, saque, destruição, extermínio. Como desde o primeiro dia, os de fora continuam a chegar, cada vez mais poderosos de ciência e cobiça, sabendo mais do que nós. A Amazônia, contudo, nos espera, a nós, que a abandonamos” (p. 85).
(Fragmentos extraídos do livro Mormaço na Floresta – Thiago de Mello)
Embora, por vezes, considerado idealista, o tempo correu e Amadeu Thiago de Melo, poeta, conciliou poesia e meio ambiente com política, sem viver com a cabeça nas nuvens, alegre com seu reencontro com seu povo, embora “ainda tão oprimido e tão injustiçado, mas contente por saber que a consciência de grandes setores da formação social do nosso país, grandes setores populares, adquiriram uma consciência mais elevada dos seus direitos”.