Por Sandro Menezes[1]
Quando descobri a internet me conheci um pouco mais. A incrível possibilidade de navegar, e navegar é preciso, como já dizia Fernando pessoa, nos faz ver novos horizontes. Museus, praias, bibliotecas, filmes, a vida quase em tempo real. As fronteiras já não são como nos mapas. E podemos ir mais fundo dentro de nós num olhar que se distancia e em parábola converge-se para nosso íntimo. Se meus olhos fossem uma máquina fotográfica (digital!) não perderia mais que um instante. O olhar é, primeiramente, um intermediário que me remete a mim mesmo. Basta que o outrem me olhe para que eu seja o que sou; ele me constitui através do olhar. Esta é a base do existencialismo de Sartre lançado em sua obra O Ser e o Nada. O olhar constitui. Mas o que isto tem haver com meio ambiente, perguntaram-me. Tudo, respondo.
O nome da coluna é uma referência a esta relação e ao que a coluna (eu) me proponho. Discutir atitudes que de tão cotidianas despercebidas passam por nossa consciência, um olhar sem ver. E nos repetimos. E repetimos. O papel que embrulha o bombom, a bituca de cigarro, tampas de refrigerante e sacolas de mercado pelo chão. Pessoas urinanndo nas paredes da história, em casas que observaram revoluções, protestos e multidões a passar, prédios centenários que abrigam decissões importantes para a econômia e cultura de um país, passam a exercer a função de mictórios ao ar livre. Propagandas várias, grafitagem, pichações, vandalismo.
O que fazemos com o papelzinho de propaganda de Dona Mãe Fulana de Tal, que promete buscar seu amor, faz vidência, resolve uma sorte de problemas, desfaz trabalhos, etc., que são entreges a esmo nas avenidas movimentadas do comércio da cidade? Pelo menos os “santinhos” dos políticos foram proibidos finalmente. Nós já vimos um salão de festa de “aparelhagem[2]” na manhã seguinte ao show? Se existe uma visão do inferno esta pode ser uma foto 3X4 de lá. E as avenidas depois das micaretas, depois dos blocos passarem? Pois, “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”…, e também aquelas crianças e seus sacos de coleta de latinhas (triste folia).
Criticamos grandes empresas, condenamos governantes, os derramantos de óleo, o desmatamento desenfreado, grandes mineradoras, julgamos o sistema. Mas não paramos de consumir. Dificilmente vemos qual a real dimensão de nossos atos e quão intimamente estão relacionados, influenciando e sendo influenciados, pelo nosso modo de vida cotidiano.
Para constar tenho preferência por discutir temas relacionados ao comportamento humano, bem como por filmes e documentários, poesias, novelas e tudo mais que permeia nosso cotidiano e cuja temática nos possibilite discutir relações socioambientais, desenvolvimento socioeconômico, cultura e política.
Fiquei feliz e honrado com a notícia de que poderia escrever em uma coluna no Blog do Diário do Verde. Um olhar despretencioso em blogs ao navegar pela internet, o preencher de um formulário não indicariam um novo desafio. Não esperava uma resposta tão rápida.
Nem ainda havia pensado em nome para uma possível Coluna! Mas, já havia uma sugestão latente, povoando minhas ideias: Miradouro. Explico:
1) Pelo fato de viver na região amazônica e a palavra lembrar coisas muito típicas daqui, tais como os ancoradouros ribeirinhos (trapiches onde famílias se reúnem para ver o rio passar);
2) Soar com outra palavra comum aqui: Varadouro, os pequenos caminhos fluviais que se interligam, comunicam-se, articulam-se, relacionam-se formando uma vasta rede fluvial;
3) E segundo o Aurélio é uma variação de miradoiro, um sinônimo de mirante, lugar de mirar, olhar, ver. Já miradouro se formou a partir de mirare, “espantar-se, olhar demoradamente, olhar com muito interesse”, mais o sufixo –orius, formador de adjetivos. A palavra deriva do verbo latino Mirari, “espantar-se, fitar, olhar demoradamente”, mais o sufixo –Douro ou –Doiro aqui com o significado de “local onde se dá a ação expressa pelo verbo” e que apenas por acaso é igual ao nome do rio (em Portugal).
4) Encontrei ainda explicação seguinte: a palavra se originara de um belvedere às margens do Rio Douro, em Portugal, de onde se “mirava o Douro”. Contudo “miradouro” se aplica a qualquer lugar de onde se aviste uma paisagem, mesmo sem se «mirar o Douro», ou olhar o rio ou o mar.
5) Entre outras associações de conceitos, sons e imagens de um homem amazônida.
Logo o nome da coluna e a que se propõe refere-se a ser um lugar a partir do qual se lança um olhar. É o que me proponho a fazer: debruçar meu olhar sobre temas pertinentes ao ser humano e seu meio e modo de vida.
Sou Sandro Menezes, Psicólogo e Bacharel em Psicologia, pela UFPA, Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes pelo LACRI/IPUSP. Sou discente do Curso de Especialização em Psicopedagogia Institucional da Universidade da Amazâonia – UNAMA. Atuo na rede de assistência em saúde do município de Cametá-PA, no Centro de Referência Integral à Saúde da Mulher e da Criança – CRISMC, desde 2002. Sou paraense, nascido na cidade de Belém, cidade das mangueiras. Presidente e Sócio Fundador do Instituto ARVORESER.
[1] Email: menezes.sandro@yahoo.com.br
[2] Refere-se a grandes caixas aplificadoras de som utilizadas por DJs e Bandas Musicais em festas do movimento Tecnobrega (Tecnomelody) no Estado do Pará.
2 Comments
Rodrigo Menezes
Meus parabéns, irei acompanhar o blog de perto e me manter atualizado ao seu conteúdo !
Abraços
Antonio Gabriel
Olá Rodrigo, obrigado pelos elogios ao Diário do Verde! Até em nome do Sandro Menezes, autor da coluna Miradouros, convido para que continue acompanhando o seu trabalho, e também, de todos os autores do blog. Abraços!