Amanhã será realizado um plebiscito no meu Estado, o Pará (2° maior Estado da Federação e a 9ª em número populacional). SIM! Pra cá, NÃO e NÃO pra lá. Eu sou 55 e eles 77. Propagandas apelativas explorando a miséria e expondo nobres cidadãos paraenses ao extremo do ridículo. Uns falam das grandezas e riquezas do Estado, outros do “esquecimento” de um povo e de partilha (do que já é de todos por definição). E o assunto é tema das mais variadas, acaloradas e emotivas discussões de bar. Mas o que fica em segundo, ou terceiro, ou quarto plano, ou ainda escamoteado nos reais motivos dos que querem ou não dividir o Pará, ainda é a total ausência, principalmente nos debates públicos no que se refere às virtuais ameaças ao meio ambiente.
Os novos possíveis estados já nasceriam com a maior parte de seus territórios “ingovernáveis”, digo, são áreas de proteção permanentes (APPs), militares e da União. Os territórios “governáveis” reduzidos, a atração populacional decorrentes da geração de mais polos de emprego e a necessidades de desenvolvimento econômico exercerão enorme pressão sobre as áreas de proteção ambiental, através principalmente da expansão do agronegócio e do comércio. Como se não bastasse o caso Belo Monte e um Código Florestal deficitário e tendencioso, novamente a Amazônia volta a ser foco nacional.
Na melhor das hipóteses o plebiscito, que não é a decisão final, diga-se de passagem, pois é apenas um dos primeiros passos do processo de divisão, traz à tona a discussão do modelo de desenvolvimento arcaico da década de 70 do século passado proposto para a Amazônia, do tempo do “Milagre Econômico”, em que rasgava a selva em teias de estradas, na pata do boi e no avanço desorganizado de frentes econômicas. Boa parte das cidades que surgiram neste bum, as margens da Transamazônica demonstram a inépcia deste modelo de desenvolvimento e sua ação predatória na fauna e flora amazônica.
Sem dúvida a população paraense é soberana nas decisões do que fazer do Estado, “mas esta é uma discussão que definitivamente diz respeito a todo o país. Não apenas pela fatura, que será paga por todos, mas pelo destino de uma região cuja sorte sempre foi escrita por mãos de outras paragens” (Lúcio Flávio Pinto).