És a planta que alimenta/ A paixão do nosso povo
Macho fêmea das touceiras/ Onde Oxossi faz seu posto…
A mais magra das palmeiras/ Mas mulher do sangue grosso
E homem do sangue vasto/ Tu te entrega até o caroço... (Sabor Açaí, Nilson Chaves)
Uma centena de anos o açaí é parte integrante da rotina alimentar do amazônida (em especial no Pará). Com farinha ou tapioca, com açúcar, sem açúcar. Junto com o almoço ou como sobremesa. Após anos de consumo “doméstico” o açaí rompe as fronteiras da Amazônia Legal e invade principalmente academias e lojas de produtos naturais do sul e sudeste do país. A propaganda é boa: fibras, vitaminas e sais minerais que todos nós, pobres mortais, podemos consumir e vir a ser (ou pelo menos sentir-se) como um “”Usain Bolt” de fim de semana. Hoje é com granola, aveia e banana…
Nas minhas viagens pelas estradas do Pará que cortam diversos rios é comum ver em certos períodos do ano um congestionamento de barcos e caminhos nas margens dos rios. As centenas, os paneiros de açaí são descarregados em comboios de caminhos até o entardecer.
O pequeno extrativista (famílias) descobriu mercado rentável da fruta para além do Estado. O extrativismo de insumos da floresta que depende de diversas variáveis (estação do ano, clima, chuvas) e que abastecia o mercado interno do consumo doméstico hoje enfrenta uma “seca”. Não apenas pelas intemperes da natureza, mas pela ação do homem (como sempre). Embora a EMBRAPA ter desenvolvido uma espécie de açaizeiro de terra firme, com menor porte e alta produtividade de frutos, hoje encontramos um mercado paraense inflacionado! O litro ” do grosso” chegou a custar R$ 25,00 (vinte e cinco reais)!
Em 2009, com assinatura da Instrução Normativa Conjunta 17, os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, definiu as normas técnicas para a obtenção da certificação de produto orgânico oriundo do extrativismo sustentável. Cujo princípio é o respeito à singularidade cultural dos povos e comunidades tradicionais e dos agricultores familiares, aliado à manutenção da estrutura dos ecossistemas e suas funções.
Buscando reproduzir a estrutura e respeitar os padrões do ambiente natural das espécies, o extrativismo sustentável combina técnicas de cultivo, criação e beneficiamento com orientações para o uso do conhecimento e as práticas tradicionais. No extrativismo vegetal é considerado orgânico o produto extraído ou coletado em ecossistemas nativos ou modificados, onde a manutenção da sustentabilidade do processo produtivo não dependa do uso sistemático de insumos externos, especialmente os químicos.
*OBS: A expressão “Açaí de 10″, por estas bandas, utiliza-se quando queremos dizer que algo ou alguém é grossa, rude ou mal educada, ou difícil de engolir (num sentido conotativo).
Para saber mais:
- Açaizeiros mais baixos e mais produtivo (21/08/2007);
- Extrativismo Vegetal Orgânico (Ministério da Agricultura);
- O que é um alimento orgânico? (Ministério da Agricultura – Perguntas frequentes)