“Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal” (Chico Buarque)
Esta semana li um artigo da revista Vida Simples (Edição 108. Agosto/2011), cujo título de capa é “Desafie suas crenças”. Em um subtítulo elucidativo: “A maneira como você pensa pode estar emperrando a sua vida”. Pergunto: como eu deveria estar pensando então? Li nesta mesma revista o artigo “A Vida pela Floresta”, de Felipe Milanez, que retrata de modo tão simples, e simples é a vida na floresta, no campo, e o modo de pensar e de viver de centenas de famílias na região Norte. Exemplifico: “Como é que um sujeito pode vender uma árvore que ele não plantou, não aguou, não cuidou, não gastou um centavo para fazer?” José Claudio pergunta a seu amigo jornalista. E arremata: “O que a natureza levou anos para fazer, o cara acaba em menos de uma hora“. José Claudio e Maria é tema do artigo do jornalista. O casal foi assasinado. No meu artigo “Norte não é com M” me referi ao casal.
A Guarda Nacional foi acionada. Polícia Federal entrou em campo. A querida presidenta solicitou que tudo fosse investigado com apreço e afinco para que o(s) autor(es) dos disparos e o possível (suposto) mandante do crime fosse responsabilizado de modo exemplar. Mas deu no jornal: a motivação do crime, segundo o delegado, não foi motivado por questões ambientais, pelo ativismo do casal ou por qualquer outro motivo ecológico. Morreram porque estavam invadindo (“ocupando”) terreno que pertencia ao suposto mandante do assassinato. Os pistoleiros foram presos. Um deles seria parente do autor “intelectual” do homicídio. Interrogatórios, advogados, mandados de busca e apreensão, todo aquele emaranhado judicial. E o acontecido vai caindo no esquecimento. Como aquela castanheira de que fala José na conversa com o amigo jornalista: “(…) você escuta o gemido dela, um ronco. E vai vendo as folhas mexendo, como vão dando adeus“. Depois, o silêncio na mata.
Será que talvez esse nosso modo de pensar esteja emperrando, enterrando, encerrando nosso modo de vida?
Talvez, parafraseando Eduardo Galeano: Na luta do Bem contra o Mal (no campo) é sempre o povo quem contribui com os mortos.
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