John Graunt, um morador da cidade de Londres do meio do século XVII (1662), estava entediado e resolveu saber quantos moradores havia na sua cidade. No entanto, considerou que contar todo mundo poderia entediá-lo ainda mais, sem avaliar outros percalços. Como provavelmente que muitos Ingleses não gostariam de ser contados, ou outros não teriam tempo pois estariam atrasados para o 25° copo de chá do dia, além daqueles que gostariam de saber o porque daquela contagem e tentariam discutir quais os motivos que levam uma pessoa a fazer isso, chegando a conclusão de que tudo faz parte da falta de sentido da vida e entrariam em depressão.
Para evitar tais contratempos inventou uma metodologia para estimar o número de moradores sem precisar contar todos. A ideia era selecionar alguns moradores, marcá-los e, depois de algum tempo, fazer a mesma coisa, mas nesse caso anotando aquelas que foram marcados duas vezes. Chamado de Captura-Marcação-Recaptura o método permitiu estimar tamanhos populacionais sem necessidade de contar todos os indivíduos, e tem salvados milhares de espécies selvagens em todo mundo.
As primeiras anotações John Graunt foram modificadas ao longo do tempo. Laplace, por exemplo, foi a primeiro a montar as primeiras fundações matemáticas do método – mas apenas 150 anos depois. Muitos outros também aperfeiçoaram e ainda aperfeiçoam o método, mas é a partir daquela ideia básica (captura-marcação-recaptura) que muitos estudos com vida selvagem foram realizados. Sabendo o tamanho populacional ao longo dos anos é possível, por exemplo, entender se uma espécie caminha para a extinção ou não. É possível entender se impactos ambientais estão afetando a sobrevivência dos indivíduos ou se atitudes conservacionista estão sendo efetivas. É possível até mesmo entender o padrão de ocupação do espaço, dando suporte para o zoneamento ambiental.
É plausível dizer que o método revolucionou o mundo da conservação ambiental, e será cada vez mais importante diante de uma necessidade de modelos mais sustentáveis do uso de recursos. É como dizem: o óceo leva à criatividade.
Rafael Morais Chiaravalloti, biólogo e mestre em Desenvolvimento Sustentável. Autor do livro “Escolhas Sustentáveis: discutindo biodiversidade, uso da terra, água e aquecimento global” e colaborador de revistas da área de Sustentabilidade. e-mail: rafaelmochi@gmail.com