22 de março, mais um Dia Mundial da Água, uma nova oportunidade para falar e discutir um tema essencial para a vida de todos nós. Em 1992, a ONU nomeou-o, a fim de despertar a consciência das pessoas sobre a importância deste bem finito e indispensável. O artigo de hoje é uma reflexão, um debate especial que une conceitos, opiniões e a realidade atual da água em todo o mundo. Um dossiê completo. O que é a água? Onde ela está? Como ajudar a preservar? Obtenha dados e respostas sobre o estado deste precioso líquido em todo o mundo.
Água. Elemento físico-químico que, tal como o conhecemos na natureza, cumpre funções biológicas e ambientais de suporte e meio para todos os seres vivos do planeta. A água é um bem de valor biológico e ambiental e um direito universal do homem. Exemplos: as águas que correm nos rios, dando vida a uma bacia hidrográfica, entalhando o seu relevo, regando os solos e plantas, evaporando e infiltrando o solo.
“A Terra é Azul.” [Yuri Gagarin, 1961] O primeiro astronauta a ver a Terra do espaço não estava exagerando quando pronunciou uma das mais célebres e conhecidas frases que ficou guardada na memória e na história nestes 50 anos. A água, ou H2O (seu nome químico), recobre 71% da Terra, exatamente a mesma proporção de água presente no corpo humano. Coincidência ou recado da natureza? Não se sabe. O fato é que, sem ela, nada existiria. O crescimento de uma nação, depende dela.
Um levantamento inédito divulgado pela Agência Nacional de Águas (ANA): Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água, mostra que o Brasil necessita investir R$ 22,2 bilhões até 2015 sob o risco de uma grande falta de água, mais precisamente, um déficit no abastecimento em 55% dos 5.565 municípios brasileiros, que juntos, respondem por 73% da demanda de água do país. Um aviso estranho, mas real. Mesmo com a maior concentração mundial de água, boa parte dos brasileiros sofrem com a escassez, diga-se de passagem moderada. Se nada for feito, em geral, corremos o risco de ter de enfrentar uma situação bem pior.
Dezenas de conflitos pela água ocorrem atualmente espalhados nos países ao redor do mundo, em todos os continentes. Há regiões que vivem sob estresse hídrico, quando a disponibilidade de água é inferior a 1.000 metros cúbicos por habitante/ano. O nível suficiente é de 2.000 a 10 mil metros cúbicos, e muito rico, mais de 100 mil metros cúbicos por habitante em um ano.
A próxima guerra mundial provavelmente será por ela. Quem irá traçar o século XXI também. Tudo vai depender do nosso tratamento, isto é, da nossa atitude. Para preservar, temos de seguir os bons e velhos hábitos: banho rápido, torneira fechada ao escovar os dentes, lavar o carro com balde a mangueira, racionar sua vazão, consertar vazamentos, re-aproveitar, fiscalizar, entre tantos outros.
Veja só o que um pinga-pinga faz: a perda de uma única gota por segundo totaliza 10 mil litros por ano. Poluição: um só metro cúbico de água contaminada inutiliza cerca de outros dez metros. A água é nossa fonte de vida e maior bem. Vamos defendê-lo, Cuidar para não Faltar!
Distribuição de Água na Terra
Mundo
Total = 1,386 bilhão de quilômetros cúbicos – estável nos últimos 500 milhões de anos.
97,5% (oceanos, aquíferos salinos e mares) – 1,351 bilhão de quilômetros cúbicos = água salgada.
2,5% – 35 milhões km³ = água doce.
Deste total: 24,4 milhões de km³ = geleiras e subsolos congelados (69,5%); 10,6 milhões de quilômetros cúbicos (0,3%) = uso do homem.
Esta água, a que nos interessa, está em rios, lagos, rios, zonas úmidas e debaixo da terra, nos lençóis freáticos. Na superfície da Terra, temos disponíveis somente 0,4% do total de água doce (135 mil km³); já no subsolo, temos 30,01% do total disponível para uso (10,5 milhões de km³). A sua distribuição é irregular, de acordo com os seus ciclos de evaporação e precipitação. As chuvas caem na proporção de 7 mil m³ por pessoa.
– Maiores concentrações globais de água (per capita – Unesco): Guiana Francesa, Islândia, Suriname, Congo e Brasil. Menores índices: Kuait, Faixa de Gaza – território palestino, Emirados Árabes e Ilhas Bahamas.
– Comparação continental: a América do Sul conta com 26% dos recursos hídricos do planeta, já a África e a Ásia, que hospedam 60% da população mundial, precisam administrar 36% dos recursos.
Brasil
15% do total de reservas naturais de água, estão concentradas aqui em nosso país, o maior fluxo de água do planeta. Porém, sua distribuição é irregular, o que implica em um volume de água por habitante bastante diverso. No Nordeste, a disponibilidade de água é de 1.279 per capita ao ano, enquanto no Amazonas, este índice salta para 773.000. Além disso, em muitos casos, as reservas estão distanciadas da população. A maior bacia hidrográfica do mundo, a Amazônica, tem próxima a si apenas 5% da população brasileira, enquanto o semi-árido, por sua vez, abriga 28% do total de habitantes residentes no Brasil. Em escala, as reservas nacionais de fontes de água estão distribuídas da seguinte maneira:
– 1º lugar | Norte: 68%.
– 2º lugar | Centro-Oeste: 16%.
– 3º lugar | Sul: 7%.
– 4º lugar | Sudeste: 6%.
– 5º lugar | Nordeste: 3%.
Brasil: 100% (valor total).
Panorama Global
Brasil
47% da água potável no Brasil destinada ao consumo humano é desperdiçada. Chama-se de desperdício não a água que cai pelo ralo, mas aquela que nem chega às torneiras: situação causada pela má conservação dos canos e das redes clandestinas. Tal volume daria para abastecer de três a quatro países com a mesma demanda da Suíça, da França ou da Bélgica. A ONU considera que o desperdício não deve ultrapassar 20%, mas são poucos os países que desperdiçam menos de 30% de suas águas com encanamento furado, equipamento com defeito e falhas no sistema de distribuição. Na América Latina, apenas Argentina e Chile apresentam percentuais menores. A Ásia desperdiça 42%, assim como a América Latina e o Caribe, a África 39% e a América do Norte 15%;
10 milhões de um total de 43 milhões de pessoas, que vivem na região do semi-árido, sofrem com a escassez de água. Na região nordestina, o consumo de água é inferior a 10% do potencial de água dos rios, enquanto nos países um pouco desenvolvidos essa porcentagem está entre 24% e 92%;
De 75 a 95% dos lixos domésticos e industriais do Brasil são jogados nas águas sem nenhum tratamento (principal causa de degradação – IV Fórum Mundial da Água);
Em apenas 47% dos municípios realiza-se a vigilância da qualidade da água. Um terço dos distritos que possuem coleta de esgoto o tratam (ANA);
Estado de São Paulo: a água para abastecimento é imprópria em 27% dos rios e reservatórios. 60% dos 5 milhões de toneladas diárias de esgoto coletadas são despejadas nos rios sem receber nenhum tratamento;
Na área rural, são 16,8 milhões de habitantes sem sistema de esgotamento sanitário;
São gastos aqui 2,7 bilhões por ano para tratar doenças transmitidas por água contaminada – 80% das consultas médicas realizadas pela rede pública e 65% das internações de todo o país estão relacionadas – direta ou indiretamente – a essa contaminação;
1.134 dos 5.281 municípios brasileiros com atividades agrícolas, tem o seu solo contaminado (IBGE). Perigo para os aquíferos, que recebem descarga de produtos químicos.
Mundo
90% dos desastres naturais estão relacionados à água (ONU);
4 bilhões de pessoas em todo o mundo estarão sob a influência da escassez em 2050 (ONU);
2,9 bilhões de pessoas no mundo inteiro não têm acesso a serviços sanitários básicos e 1,5 bilhão têm problemas de acesso à água potável;
1,2 bilhões de pessoas não tem acesso à água e 2,5 bilhões vivem sem nenhuma espécie de rede de esgoto – condição que resulta na morte de 25 mil pessoas por dia por causa das doenças associadas à má qualidade da água;
2 milhões de pessoas morrem por ano em decorrência de doenças que provocam a diarréia, 200 milhões são infectados com esquistossomose;
1,8 milhão de crianças morrem de diarréia, 443 milhões faltam à escola por doenças causadas pelo consumo de água inadequada e metade da população dos países em desenvolvimento tem algum problema de saúde relacionado à falta de água;
1,6 milhão de vidas poderiam ser salvas anualmente com o fornecimento de água potável, saneamento básico e higiene (ONU);
205 pessoas morrem a cada hora em todo o mundo por doenças relacionadas à contaminação da água (OMS);
Água e esgoto consomem 0,5% do PIB dos países. O PNUD avalia que, se essa porcentagem subisse para 1%, haveria avanços significativos na área de saúde e desenvolvimento;
A agricultura consome, em média, 70% da quantidade total de água. Metade é desperdiçada no processo de irrigação. A combinação da mesma mais a salinização, a fim de tentar recuperar os altos danos ao solo, deteriorou 80 milhões de hectares de terras agrícolas em todo o mundo;
A malária, transmitida por mosquitos que vivem em água parada, mata mais de um milhão de pessoas por ano;
A maior parte dos países afetados tanto pelas secas quanto pela escassez de alimentos, 24 dos 39 em todo o mundo, localiza-se na África Austral e Oriental (FAO). Oito milhões de pessoas foram atingidas, principalmente na África Oriental, pelas consequências da falta de chuva, e esse número chega a dobrar se contabilizarmos a população que vive em estado crônico de escassez alimentar por causa da instabilidade política;
A natureza só consegue renovar a água por meio de uma única fonte: a chuva continental. Ela gera até 45 mil quilômetros cúbicos por ano;
A Suécia em dez anos reduziu pela metade o consumo de água utilizada por suas indústrias de papel e celulose enquanto duplicou a sua produção;
África: um terço da população que vive no continente, 300 dos 905 milhões de pessoas, não tem acesso à água potável e 313 milhões não têm saneamento básico. Ásia: 52% da população não possui saneamento básico;
África subsaariana: perde 5% do PIB por conta das doenças causadas pela água;
América Latina: calcula-se que existam 100 milhões de habitantes urbanos que não têm acesso a serviços de água e 120 milhões que não têm acesso a fontes confiáveis. Dos 120 milhões, 57 estão no Brasil, 10 no México, 18 na Argentina, 7 na Venezuela e 7 no Peru. O Chile é o único que chegou a 100% de cobertura no acesso à água potável e ao saneamento;
Defasagem dos serviços rurais em relação aos urbanos (tratamento de esgoto): África, 85% para 47%; Ásia, 93% para 74%; América e Latina e Caribe 93% para 62%; Europa 100% para 87%;
Desde 1975, a Alemanha usa a mesma quantidade no processo industrial mesmo tendo aumentado 45% da produção;
Diarréias não tratadas que causam a morte por desidratação levam quatro milhões de pessoas por ano à morte;
Do total de água disponível, 75% é utilizado na irrigação e 15% para atividades urbanas e industriais;
Em 2030, cerca de 2/3 da humanidade estará concentrada nas cidades. 2 bilhões de pessoas viverão em favelas e assentamentos irregulares sem água potável e saneamento;
Existem 800 mil reservatórios e represas (grandes e pequenos) espalhados pelo mundo – Conselho Mundial da Água. Construídas com o objetivo de gerar energia e armazenar água de abastecimento, as represas interferiram no trajeto de 60% dos rios mais importantes do mundo. Na década de 1990, 80 milhões de pessoas foram deslocadas. Países líderes neste segmento: China (aproximadamente 50% do total), Estados Unidos, Índia, Japão e Espanha. Menores índices: Brasil, França, África do Sul, México, Itália, Reino Unido e Austrália;
IBGE (Atlas de Saneamento do Brasil, 2004): apenas 67,9 milhões de pessoas têm acesso ao serviço sanitário numa população de 169,8 milhões. 83 milhões de brasileiros que moram nas cidades não possuem esgotamento sanitário adequado e mais de 36 milhões deles estão nas metrópoles. 93 milhões de pessoas que vivem na cidade não têm os esgotos tratados. Em 7,5 milhões de moradias no país não existe nenhum tipo de instalação sanitária. 14 milhões não têm coleta de lixo. Apenas 7% dos municípios da região da bacia Amazônica coletam e tratam os esgotos;
Mar Vermelho e Sael (nordeste africano, zona de transição entre o deserto e a savana): locais onde apenas 30% da população tem água relativamente potável e cota de água disponível per capita é de um ou dois litros quando o mínimo considerado vital pela OMS está entre 50 e 80 litros;
Meio milhão de hectares, em 15 países, utilizam águas urbanas tratadas e canalizadas para o cultivo de hortaliças e frutas;
Metade dos leitos hospitalares em todo o mundo é ocupado por portadores de doenças causadas pelo uso da água imprópria (Programa Ambiental das Nações Unidas);
Norte-americanos, japoneses e alemães gastam seis metros cúbicos de água para fabricar uma tonelada de aço. A China chega a gastar 56 m³. Gasta ainda o dobro de água utilizada nos países europeus;
Nos EUA, a agricultura é responsável por 70% da contaminação da água e os agrotóxicos e fertilizantes utilizados já comprometeram a qualidade de 280 mil quilômetros de rios e lagos. Nos países da Europa, esse comprometimento é maior, chega a 90% dos rios;
Nos EUA, 60% dos poços, em áreas agrícolas, contêm pesticidas;
Nos países em desenvolvimento, 90% do lixo humano são despejados, sem qualquer espécie de tratamento, nos rios lagos e mares;
Num período de dez anos, a cada mil reais que investirmos em saneamento, esgoto e água potável serão economizados 4 mil na rede pública (OMS);
O fornecimento inadequado de água e a falta de saneamento nos países em desenvolvimento são, juntos, responsáveis pela sexta maior causa de mortes. E nos países desenvolvidos, caem para a vigésima causa. Apenas 49% dos países da América Latina e do Caribe têm sistemas de drenagens adequados. Chile, Guatemala, México e Colômbia são os únicos onde o atendimento à população urbana é maior do que 70%. (Conselho Mundial de Água);
Os alimentos provenientes de áreas costeiras e de água doce são responsáveis por 2,5 milhões dos casos de hepatite e por 25 mil mortes, ao ano. Além de doenças como cólera, diarréia e problemas de pele;
Os Estados Unidos, reduziram pelo menos um terço da água utilizada em suas indústrias ao mesmo tempo que duplicaram sua produção industrial;
Os países desenvolvidos utilizam até a metade das águas disponíveis nos rios e aquíferos nos processos industriais;
Os serviços de água de metade da população são inferiores aos da Grécia e Roma antigas: 40% dela não tem um sistema sanitário adequado;
Para cada dólar investido nas metas de água e planejamento há o ganho de oito dólares em tempo, acréscimo de produtividade e custos de saúde (Relatório de Desenvolvimento Humano 2006);
Um dos Objetivos do Milênio, estipulado na meta 7 (Qualidade de Vida e Respeito ao Meio Ambiente), para ser alcançado até 2015, inclui a questão da água. Estima-se que um investimento de 10 bilhões de dólares seja necessário para atingir as metas do milênio (8 no total). Valor que representa menos do que o gasto de 5 dias de despesa militar em todo o mundo e menos da metade da quantia que os países ricos gastam em água mineral por ano. Os benefícios econômicos totalizariam 38 bilhões de dólares por ano e poupariam milhões de vidas. No caso da África subsaariana, tendo como referência as condições de hoje, a projeção é que as metas de desenvolvimento do milênio em relação à água só sejam atingidas apenas em 2040, e as de saneamento em 2076. O Relatório de Desenvolvimento de 2006, considerando país a país, aponta que 55 países e 234 milhões de pessoas não alcançarão a meta da água, e que 430 milhões de pessoas e 74 países não alcançarão a meta do saneamento.
Não há muito o que se comemorar. E sim, o que pensar hoje, e daqui em diante.
Dia Internacional da Água: uma data para conscientizar e mudar.
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