No verão muitas coisas acontecem: amores efêmeros, tatuagens de rena e muita chuva na Amazônia.
Bom, mas para chover é necessário nuvem, e com nuvem os satélites não conseguem enxergar o que está acontecendo aqui na Terra. Sem essas informações o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e o IBAMA têm uma visão parcial do desmatamento na Amazônia – eles apenas conseguem compreender o quanto realmente foi desmatado durante um ano comparando dois períodos secos (porque as nuvens foram embora).
No novo código florestal uma das propostas no texto original é dar anistia aos que já tiverem desmatado e, de forma geral, apenas multar aqueles que cortarem as floresta depois da aprovação da nova lei. Em uma reação bastante lógica, muitas proprietários de terras na Amazônia resolveram aceleram o desmatamento para realizá-lo antes da votação do código e serem anistiados. Assim, segundo o INPE o desmatamento aumentou 27% no começo desse ano.
No entanto, esse aumento é apenas parte do que foi desmatado, uma vez que as análises foram feitas no verão e existem muitas nuvens na Amazônia. Assim, muito provavelmente, quando chegarmos em Agosto e as nuvens forem embora, o cenário mostrado pelos satélites será muito mais feio, e aposto que o desmatamento será bem maior do que os 27%. Nesse ritmo, a Amazônia irá sumir mais rápido que as tatuagens de rena e as paixões a beira-mar.
Rafael Morais Chiaravalloti, biólogo e mestre em Desenvolvimento Sustentável. Autor do livro “Escolhas Sustentáveis: discutindo biodiversidade, uso da terra, água e aquecimento global” e colaborador de revistas da área de Sustentabilidade. e-mail: rafaelmochi@gmail.com