A cada dia que passa, produzimos mais e mais lixo. Muitas pessoas consideram que as coisas são descartáveis e essa linha de pensamento é constante em nossa sociedade de consumo atual. Vários bens de consumo são trocados com frequência, ótimos exemplos são os celulares, televisores e computadores. Com o avanço cada vez mais rápido da tecnologia, nos vemos compelidos a trocar nossos equipamentos por outros mais novos e de última geração. E o que acontece com os aparelhos antigos? São jogados fora e muitas vezes de maneira inadequada. Muitos aparelhos hoje em dia têm até uma vida útil limitada, o que nos força a trocá-los depois de algum tempo. Em nossas atividades diárias produzimos uma quantidade enorme de lixo, mas onde vai parar tudo isso? Quem mais sofre com essa situação é justamente o nosso planeta. Os lixões e aterros sanitários estão cada vez mais lotados e o lixo que produzimos não fica só em terra, parte dele é despejado no mar.
Estima-se que cerca de 80% do lixo encontrado em nossos oceanos tem origem em atividades humanas terrestres, como sacos plásticos, garrafas, entre outras coisas. Os 20% restantes é composto por redes de pesca danificadas ou perdidas e de lixo oriundo de embarcações diversas, navios de carga, transatlânticos turísticos e plataformas de petróleo. Esse lixo representa um grande risco ambiental e está sendo acumulado cada vez mais.
Um ótimo exemplo desse acúmulo é a “Grande Mancha de Lixo do Pacífico” ou “Great Pacific Garbage Patch” em inglês, descoberta pelo oceanógrafo Charles Moore. Diferente do que muitas vezes é veiculado na mídia, essa mancha não se trata de um “tapete” ou “colcha” de lixo flutuante, que fica boiando na superfície do mar e é visível a olho nu. De fato, ela é composta principalmente por pedaços de plástico. O plástico que utilizamos não é biodegradável e se acumula no ambiente. Só que ele é degradado ao ficar exposto à luz solar e se quebra em pedaços menores. Forma-se então uma “sopa” com milhares de pequenos pedaços de plástico (como também pedaços maiores), que se estende por vários quilômetros. De fato, não se sabe exatamente a dimensão dessa mancha, pois os pequenos pedaços de plástico podem ficar boiando na superfície do mar ou espalhados na coluna d’água abaixo. Alguns pesquisadores afirmam que ela pode chegar ao tamanho do estado do Texas, EUA, mas dificuldades de amostragem atrapalham a medição exata da mancha.
Essa mancha se localiza entre o arquipélago do Hawaii e o estado da Califórnia, no Giro do Pacífico Norte. Há outra mancha grande próximo à costa do Japão, sendo chamada de “Mancha de Lixo do Oeste”, sendo a original a do leste. O Giro do Pacífico Norte trata-se de um conjunto de correntes marítimas que correm circularmente, o que forma zonas de convergência que propiciam o acúmulo de lixo. Pesquisadores encontraram também grandes acúmulos de lixo no Atlântico na zona do Giro do Atlântico Norte.
O impacto desse lixo no meio ambiente e na fauna local é enorme. As redes de pesca abandonadas podem enredar aves marinhas, tartarugas e outros animais, matando-os por afogamento. Muitos animais confundem o plástico com comida e acabam ingerindo partículas acidentalmente. Tartarugas marinhas ingerem o plástico, principalmente sacolas plásticas, pois o confundem com um dos seus principais alimentos, as águas-vivas. Outro exemplo é o albatroz. Os pais deixam seus filhotes na costa e saem à procura de alimento e confundem pedaços pequenos de plástico boiando com comida, principalmente tampas de garrafa pet. Eles alimentam acidentalmente seus filhotes com esses pedaços de plástico, e isso pode ser letal, pesquisadores já encontraram inúmeros filhotes de albatroz mortos que continham inúmeras partículas de plástico em seu estômago. O plástico não é digerido e se não é expelido pelo organismo, é acumulado no trato digestivo desses animais e pode até promover danos e ruptura nos órgãos. Além disso, esses filhotes não recebem comida adequada e podem morrer também por inanição.
Peixes pequenos também ingerem partículas de plástico e quando não morrem e são comidos por outros peixes maiores, o plástico entra assim na cadeia alimentar. O plástico contém várias substâncias tóxicas que podem ser letais quando ingeridas, e essas podem se acumular ao longo da cadeia alimentar e chegar até o homem. Até microorganismos do zooplâncton podem ingerir esse plástico, aumentando ainda mais esse problema, uma vez que esses são base na alimentação de outros organismos. Essas pequenas partículas de plástico agem também como “esponjas”, retendo outras substâncias tóxicas e poluentes, piorando ainda mais a poluição na região.
Essa situação alarmante tem chamado a atenção de várias entidades internacionais. O NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), agência do governo dos EUA, vem estudando as possibilidades de limpar a área. Recentemente, foi iniciado um projeto chamado Kasei que também está trabalhando na limpeza do local.
Apesar dos esforços internacionais, essa tarefa não é nem um pouco fácil. A imensa quantidade de lixo torna qualquer medida muito cara. Só o custo de combustível envolvido já é enorme. A logística também é um problema, uma vez que a área é muito extensa e as concentrações de lixo variam entre os locais. O plástico está a deriva e pode mudar de lugar de acordo com pequenas mudanças nas correntes marítimas, logo fica difícil até determinar os locais prioritários para limpeza. Além do mais, qualquer medida tomada terá um impacto enorme no meio ambiente. O primeiro impacto seria causado pela poluição e emissão de gás carbônico resultante do grande número de navios envolvidos, segundo, esse plástico tem que ser retirado por redes de malha muito fina, a fim de se retirar os menores pedaços, e com isso, praticamente toda a fauna também é arrastada. Logo essa limpeza causará também a morte de grande parte da fauna local.
Problemas como esse são realidade nos dias de hoje e devemos sim buscar novas soluções, mas o fato é que a situação está ficando cada vez mais complicada. Com a discussão recente em torno da lei que proibirá a distribuição de sacolas plásticas pelos estabelecimentos em São Paulo correndo nos meios de comunicação, é um bom momento para refletirmos no que estamos fazendo com o nosso planeta e que iremos deixar para nossas gerações futuras.
Para quem quiser saber mais sobre o assunto, sugiro uma palestra do oceanógrafo Charles Moore, que pode ser acessada no link:
http://www.ted.com/talks/lang/en/capt_charles_moore_on_the_seas_of_plastic.html