Desde já precisamos definir corretamente o que quer dizer “resíduo sólido”. Em bom Português, resíduo é o que sobra de algo; sólido é toda matéria dura, mas não podemos ignorar os líquidos e os gases nesse contexto de preservação ambiental.
Esse termo é usado para descrever “lixo”, quando não se quer usar esta palavra. Se você procurar na Internet, irá encontrar este absurdo: “Antigamente, os resíduos sólidos eram denominados lixo e fim. Atualmente há uma compreensão que os materiais separados, passíveis de reciclagem ou reaproveitamento recebem tratamento de resíduos sólidos, enquanto os materiais misturados e acumulados tem mais uma conotação de lixo.” Pronto: está formada uma perfeita confusão e é em mais confusão que o assunto jamais será tratado da forma correta. Permita-me sair dessa matrix maluca e esclarecer o que deveria ser óbvio. Vamos arrumar as ideias e colocar as coisas no lugar?
O que é lixo?
Lixo é toda e qualquer substância, sólida ou não, que não tem mais utilidade ou possibilidade de reaproveitamento. Simples e claramente dito. Para completar, o lixo tem duas características inseparáveis: 1ª.) É material contaminado, com potencial de transmissão de doenças; 2ª.) Não pode ser reutilizado, isto é, não serve mais para ser transformado ou reaproveitado, para qualquer finalidade.
Sendo assim, o lixo só tem um destino adequado: ser eliminado através de incineração, que precisa ser feita de forma controlada, ou seja, filtrando-se as emanações de fumaça e de gases indesejados. Qualquer coisa além disto é apenas desconhecimento, desinformação, especulação ou desequilíbrio ideológico. Será que é tão difícil de entender isto? Portanto, falar em “coleta seletiva de lixo” é uma das muitas barbaridades que se comete por conta desse desconhecimento. Lixo não serve para nada; não pode ser coletado de forma seletiva, no sentido de algum reaproveitamento posterior. Isto é um grave erro e só causa confusão.
O que é resíduo?
Como já foi dito acima, resíduo é o que resta; é o que sobra de algum material, sólido, líquido ou gasoso. O resíduo pode não estar contaminado, se for manipulado adequadamente, inteligentemente; o resíduo pode e deve ser coletado seletivamente; o resíduo pode, deve, precisa ser reciclado, para o bem da natureza e de todos os seres viventes no planeta. Quanto à palavra “sólido”, é uma impropriedade o uso do termo porque tanto líquidos quanto gases também deixam resíduos e, manipulados corretamente, podem e devem ser reciclados, pois existem tecnologias para esse procedimento.
Se querem incluir as embalagens no termo “resíduo”, embora não seja etimologicamente correto, podemos fazer vista grossa para esse deslize linguístico e evitar novo conflito, porém assumindo um certo risco por essa tolerância.
Feitos os devidos esclarecimentos, podemos passar para a parte prática da questão e dizer que “resíduos sólidos” tem a ver com a atividade de reutilização dos materiais reaproveitáveis e do processo de reciclagem, a fim de evitar que o nosso planeta Terra continue sofrendo tantas agressões à natureza e ao nosso ambiente comum, com a contínua, desenfreada e predatória extração de seus recursos materiais, com finalidade puramente geradora de lucro desmedido.
Como fazer o reaproveitamento inteligente dos resíduos?
Sem entrar na questão da forma ideal para esse reaproveitamento, o que poderemos fazer em próxima ocasião, temos que deixar bem clara uma coisa muito importante: os resíduos devem prosseguir para a reciclagem, onde necessitam ser separados, guardados e recolhidos de forma a não sofrer qualquer tipo de contaminação. A reciclagem tem que ser feita a partir de materiais limpos e secos, sem sujeira e sem contaminação. Assim, em vez de usar o termo “resíduo sólido” de forma errada e indefinida, o correto seria dizer “resíduo seco descontaminado”.
Por ora, temos aqui o suficiente para a sua consideração e avaliação. Dificilmente iremos mudar os erros que já estão consolidados, mas se mudarmos a nossa forma de pensar e aceitar perceber as coisas do modo correto, estaremos avançando na direção desejada para a construção de um mundo melhor e ambientalmente recuperado. Sejamos otimistas!
Artigo escrito por Antonio Carlos Menezes Gonçalves, especialista em Coleta Seletiva e Reciclagem, a quem o Diário do Verde agradece a participação.