Está aberta a temporada de caça ao tesouro. E não se trata das buscas em alto mar ou nas ilhas desertas que ilustram as histórias de marinheiros e piratas. A paisagem dessas histórias da vida real está bem mais próxima do nosso cotidiano: a orla turística da cidade do Rio Janeiro.
Os garimpeiros do mar, como são conhecidos, munidos de pouquíssimos equipamentos e muito fôlego, vasculham o mar que banha as praias do Leme ao Pontal em buscas de objetos de valor perdidos pelos banhistas.
Vindos dos mais diversos pontos da cidade, eles costumam chegar às praias antes mesmo que o dia amanheça. Suas ferramentas de trabalho são pés de pato, máscara de mergulho e alguns instrumentos improvisados, como ganchos em formato de ancinho utilizados para revirar o fundo da areia.
Sem ciência ou técnica definida para praticar o garimpo no mar, existem duas maneiras de procurar por pequenos objetos de valor: quando o mar está agitado e não há visibilidade adequada para os mergulhos, os garimpeiros trabalham com a água na altura da cintura e reviram a areia com seus ganchos. Já em dias de mar tranquilo e águas claras, chegam a mergulhar a até dez metros de profundidade, sem o auxílio de nenhum equipamento de mergulho, catando os objetos com ancinhos ou com as próprias mãos.
Além de buscarem o proveito próprio ao encontrarem objetos de valor, eles colaboram para a limpeza do mar. O objetivo de suas buscas são sempre as joias e não é raro encontrarem anéis, cordões, alianças, brincos e pulseiras de ouro ou com algum valor comercial. Além disso, o mar costuma devolver óculos escuros, dinheiro vivo (inclusive dólares e euros) e até câmeras fotográficas.
A febre da famosa câmera GoPro, equipamento à prova d’água e considerados o mais apropriado para registrar imagens de ação que virou mania entre os praticantes de surfe e stand up padle, mudou o foco das buscas nas praias cariocas. A câmera tem alto valor comercial e constantemente é derrubada das pranchas em que são acopladas. Resultado: só podem ser encontradas pelos olhos experientes dos garimpeiros mergulhadores, e lhes rendem um bom dinheiro.
As autoridades públicas não proíbem o trabalho dos garimpeiros do mar, já que não o considera uma atividade econômica. Contudo, entre achados únicos e valiosos e o acúmulo de objetos de pequeno valor que são recolhidos das águas em grande quantidade, os caçadores de tesouros colaboram para a retirada de materiais não biodegradáveis da orla e conseguem angariar renda equivalente ou superior suas antigas profissões, que tinham salário em torno de R$1.500.
Resíduos que acidentalmente poderiam ser esquecidos no mar e, consequentemente, afetar o meio ambiente, encontraram nas mãos desses exploradores um novo destino, mais sustentável e rentável.
*Autoria: Aline Matos, da Plataforma Conversion. O conteúdo na íntegra desta publicação e os respectivos links são de inteira responsabilidade da autora.