Fé, força, e muita coragem: de tudo um pouco!
–
Declaração de Chico Mendes, sobre a Floresta Amazônica
–
Quero dizer a vocês que eu sou um seringueiro, tenho uma participação direta na selva, na Floresta Amazônica, mas se hoje não estou ligado à produção extrativista é porque não tenho condições, chegou o momento em que tive que sair fora, para dar um apoio maior para minha categoria.
O desbravamento da Amazônia começou a partir de meados do século XIX, ou seja, a partir do ano de 1877, quando começaram a chegar as primeiras levas de nordestinos na Amazônia. Agora, se perguntamos, e a Amazônia era desabitada? Não, a Amazônia tinha seus verdadeiros donos, que eram os índios. Naquela época, por volta de 1877, antes da chegada dos brancos na Amazônia, existiam na região do vale do Jurá, do Acre, mais de sessenta grupos tribais que juntos formavam várias nações e eram os legítimos donos daquela região.
Exatamente a partir de 1877, atendendo a interesses econômicos e quando a borracha ganhava relevo na ocupação da Amazônia, impulsionada pela política de interesses de grupos estrangeiros e de grupos internos, aí então começa o tráfico de nordestinos. Começa então uma vida difícil para o nordestino, quando milhares de famílias de deslocaram para a região e de repente essas pessoas tiveram que entrar em conflito com os verdadeiros donos da terra. Armados pelos patrões, estes companheiros foram obrigados a entrar em guerra com os índios […]. As sessenta tribos daquela época ficaram reduzidas a umas dez tribos […] principalmente após 1900 começa uma tranquilidade porque os índios já tinham desistido, já tinham sido vencidos.
Com o tempo, nós aprendemos os costumes do índio, apesar de nós termos sido seus inimigos e responsáveis pelo seu genocídio, nós terminamos por aprender os seus costumes, as suas tradições, os seus relacionamentos com a natureza […].
Durante este século, os seringueiros passaram a viver num regime de escravidão, milhares de nordestinos que vieram naquela época para desbravar a Amazônia com o sonho de voltarem novamente a rever seus familiares, a recuperar sua vida no Nordeste, não tiveram a sorte de voltar por vários motivos: foram mortos pelos índios, foram mortos por doenças e foram mortos por jagunços, no momento em que recebia o dinheiro, o jagunço já estava esperando lá no tronco de uma árvore, matava-o e o dinheiro era devolvido para o patrão.
Em 1970, com o apoio dos incentivos fiscais da Sudam, os fazendeiros do Sul chegaram na Amazônia, no Acre. Neste momento, em 1975, na minha região são destruídas, pelo fogo e pelas motosserras, 180.000 árvores de seringueiras, 80.000 castanheiras, que é uma árvore de grande importância, e foram destruídas mais de um milhão e duzentas mil madeiras de lei, de grande importância para a região.
Resolvemos criar um movimento pacifista, aí acionamos mulheres e crianças para o movimento de paz. De 1977 até 1987, nós realizamos 45 movimentos de empate, tivemos 30 derrotas e 15 vitórias. […] os observadores internacionais constataram que a nossa luta também, apesar de ser uma luta pela sobrevivência, em defesa da vida, tinha um caráter ecológico ambiental e, em janeiro de 1987, nós recebemos uma comitiva da ONU que foi aos seringais em Xapuri, no Acre, observar o nosso trabalho, o nosso movimento e resistência.
Nós, os seringueiros, não queremos transformar a Amazônia num santuário, o que nós não queremos é a Amazônia devastada. E aí se pergunta: qual é a proposta que vocês têm? E nós então começamos a discutir além da questão da luta contra o desmatamento.
Nós começamos a apresentar a proposta alternativa para a conservação da Amazônia. Estas propostas se baseiam hoje na criação das reservas extrativistas.
Recentemente temos mais de dez lideranças ameaçadas de morte, mas não tememos […] enfim, o meu objetivo é trazer uma mensagem no sentido de que na medida do possível vocês procurem sensibilizar outras pessoas nesta causa que nós defendemos, porque a questão da Amazônia é uma questão que interessa a todos os segmentos da sociedade brasileira. Se continuar o desmatamento, se continuar se investindo nos incentivos e na criação de grupos agropecuários para a Amazônia, então o nosso futuro estará ameaçado.
No momento era isso que eu tinha para colocar para vocês.
–
O desbravamento da Amazônia começou a partir de meados do século XIX, ou seja, a partir do ano de 1877, quando começaram a chegar as primeiras levas de nordestinos na Amazônia. Agora, se perguntamos, e a Amazônia era desabitada? Não, a Amazônia tinha seus verdadeiros donos, que eram os índios. Naquela época, por volta de 1877, antes da chegada dos brancos na Amazônia, existiam na região do vale do Jurá, do Acre, mais de sessenta grupos tribais que juntos formavam várias nações e eram os legítimos donos daquela região.
Exatamente a partir de 1877, atendendo a interesses econômicos e quando a borracha ganhava relevo na ocupação da Amazônia, impulsionada pela política de interesses de grupos estrangeiros e de grupos internos, aí então começa o tráfico de nordestinos. Começa então uma vida difícil para o nordestino, quando milhares de famílias de deslocaram para a região e de repente essas pessoas tiveram que entrar em conflito com os verdadeiros donos da terra. Armados pelos patrões, estes companheiros foram obrigados a entrar em guerra com os índios […]. As sessenta tribos daquela época ficaram reduzidas a umas dez tribos […] principalmente após 1900 começa uma tranquilidade porque os índios já tinham desistido, já tinham sido vencidos.
Com o tempo, nós aprendemos os costumes do índio, apesar de nós termos sido seus inimigos e responsáveis pelo seu genocídio, nós terminamos por aprender os seus costumes, as suas tradições, os seus relacionamentos com a natureza […].
Durante este século, os seringueiros passaram a viver num regime de escravidão, milhares de nordestinos que vieram naquela época para desbravar a Amazônia com o sonho de voltarem novamente a rever seus familiares, a recuperar sua vida no Nordeste, não tiveram a sorte de voltar por vários motivos: foram mortos pelos índios, foram mortos por doenças e foram mortos por jagunços, no momento em que recebia o dinheiro, o jagunço já estava esperando lá no tronco de uma árvore, matava-o e o dinheiro era devolvido para o patrão.
Em 1970, com o apoio dos incentivos fiscais da Sudam, os fazendeiros do Sul chegaram na Amazônia, no Acre. Neste momento, em 1975, na minha região são destruídas, pelo fogo e pelas motosserras, 180.000 árvores de seringueiras, 80.000 castanheiras, que é uma árvore de grande importância, e foram destruídas mais de um milhão e duzentas mil madeiras de lei, de grande importância para a região.
Resolvemos criar um movimento pacifista, aí acionamos mulheres e crianças para o movimento de paz. De 1977 até 1987, nós realizamos 45 movimentos de empate, tivemos 30 derrotas e 15 vitórias. […] os observadores internacionais constataram que a nossa luta também, apesar de ser uma luta pela sobrevivência, em defesa da vida, tinha um caráter ecológico ambiental e, em janeiro de 1987, nós recebemos uma comitiva da ONU que foi aos seringais em Xapuri, no Acre, observar o nosso trabalho, o nosso movimento e resistência.
Nós, os seringueiros, não queremos transformar a Amazônia num santuário, o que nós não queremos é a Amazônia devastada. E aí se pergunta: qual é a proposta que vocês têm? E nós então começamos a discutir além da questão da luta contra o desmatamento.
Nós começamos a apresentar a proposta alternativa para a conservação da Amazônia. Estas propostas se baseiam hoje na criação das reservas extrativistas.
Recentemente temos mais de dez lideranças ameaçadas de morte, mas não tememos […] enfim, o meu objetivo é trazer uma mensagem no sentido de que na medida do possível vocês procurem sensibilizar outras pessoas nesta causa que nós defendemos, porque a questão da Amazônia é uma questão que interessa a todos os segmentos da sociedade brasileira. Se continuar o desmatamento, se continuar se investindo nos incentivos e na criação de grupos agropecuários para a Amazônia, então o nosso futuro estará ameaçado.
No momento era isso que eu tinha para colocar para vocês.
–
Trechos da palestra realizada por Chico Mendes, em junho de 1988, promovida pelo Departamento de Geografia da USP e AGB–SP. Chico Mendes foi assassinado em 22 de dezembro de 1988.
–
Fonte: Livro de Geografia da 6ª Série – Coleção Geografia. De Sonia Castellar e Valter Maestro. São Paulo, 2002 – 2ª Edição. QUINTETO EDITORIAL.