Minha professora do primário me dizia que se eu não conseguisse ligar os pontos e completar a letra “a” não passaria de ano, e foi o que aconteceu: fiz duas vezes o pré dois. A partir daí, minha relação com a escola não foi mais, digamos, amigável. Estudei em umas 10 escolas tentando me encontrar. Mas apesar das minhas frustrações cognitivas com os pontos da letra “a”, entendo que a escola é uma instituição fundamental e magnífica.
Acabei de voltar de uma viagem por algumas comunidades locais do Pantanal, e lá percebi o quanto a escola é importante. Entrevistando pessoas e entendendo a realidade, foi possível perceber que, a longo prazo, as comunidades aparecem e desaparecem pela presença da escola. Os pais mudam-se para regiões onde os filhos possam estudar e, quando não, as crianças ficam internadas 2-3 meses. Os professores fazem o mesmo, e largam as famílias durante esse mesmo tempo para poder ensinar. Sem contar as dificuldades de um lugar quase que inóspito; durante todo ano o calor quase que insuportável mistura-se com nuvens de pernilongos durante as aulas. A vida não é fácil para quem mora nessas regiões, mas o estudo sempre está em primeiro lugar.
Fiquei muito impressionado com a disposição das pessoas. Aquela situação me fez repensar toda a minha história com a escola. Todos os “as” que deixei de completar e todas as aulas que deixei de ir. Mas é para isso que serve a escola: aprender.
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Rafael Morais Chiaravalloti, biólogo e mestre em Desenvolvimento Sustentável.
Livro: “Escolhas Sustentáveis: discutindo biodiversidade, uso da terra, água e aquecimento global” com Cláudio Pádua, Editora Urbana, 2011, 169 p.
Site: Café com Sustentabilidade
e-mail: rafaelmochi@gmail.com, Facebook e @R_Chiaravalloti.
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