Queimadas: na região intertropical, tem sido objeto de preocupação e polêmica em nível nacional e internacional. O fenômeno é generalizado na agricultura brasileira. Está presente desde os sistemas de produção menos intensificados – como os dos indígenas, que usam o fogo para preparar roças e caçar – até as agriculturas mais intensificadas, como a cana-de-açúcar, o algodão e os cereais – que queimam palhas e restolhos dos cultivos para controlar pragas ou facilitar a colheita. No Brasil, basta um ligeiro aquecimento da economia agrícola para aumentar o fenômeno. Além dos restos de cultura, as queimadas estão presentes em vastas áreas de cerrados e acompanham os desmatamentos na Amazônia. O fogo entra também na colheita da cana, na limpeza e renovação de pastos em todo o Centro-Oeste e Sudeste, na preparação de terras de plantio no Nordeste e em outras regiões. A todas essas queimadas agrícolas somam-se os infinitos fogos em beira de estrada, lixões, fundos de quintais e terrenos baldios, ateados por gente fascinada por chamas e labaredas. Ocorrem principalmente durante os meses de inverno, no período seco do ano. Somadas à poeira deste tempo seco e à poluição de fábricas e veículos, elas liberam calor e lançam no ar grandes quantidades de gases e poluentes. Acumulados na baixa atmosfera, eles agravam o complexo fenômeno do aumento das doenças respiratórias no inverno, ligado às mudanças de temperatura e umidade. A fumaça aumenta o risco dos voos aéreos e do tráfego nas rodovias, reduz a visibilidade e causa acidentes. O fogo fora de controle destrói matas, redes elétricas e telefônicas, além de outros patrimônios públicos e privados. Alguns gases das queimadas sobem acima da chamada “camada de mistura” da atmosfera (entre 1 e 3 quilômetros de altitude), interferindo no complexo equilíbrio da química atmosférica. Os gases de carbono (CO e CO2) são os principais responsáveis pelo efeito estufa, e as queimadas de áreas recém-desmatadas contribuem para agravar o problema, porque o carbono liberado estava “estocado” nos troncos e galhos das árvores derrubadas durante muitos anos. Mas as queimadas em áreas agrícolas tradicionais pouco ou nada contribuem para o chamadoefeito estufa. Com as chuvas, as culpas voltam a crescer, os pastos se tornam verdes e folhas novas surgem nas árvores e arbustos. Toda essa vegetação renovando-se e crescendo retira da atmosfera o carbono emitido pela maioria das queimadas e pelo álcool usado nos automóveis. Fecha-se o ciclo do carbono. Infelizmente tem gente alarmada que ainda não entendeu – no Brasil e no exterior – a diferença entre desmatamento e queimada. Esse tipo de queimada agrícola, não resultante do desmatamento, é característica de grande parte do território nacional, sobretudo onde a agricultura não avança mais sobre a mata nativa. A agricultura brasileira usa amplamente essa técnica agrícola do neolítico. E isso, apesar de meio século de luta dos técnicos, educadores e cientistas contra essa prática e de existirem alternativas tecnológicas para substituir o fogo em praticamente qualquer sistema de produção agrícola. Razões econômicas e sociais podem explicar o uso do fogo, mas nunca justificá-lo em tal escala. As queimadas não devem ser confundidas com osincêndiosflorestais ou de qualquer outra natureza. Em princípio, uma queimada tem local, hora e vegetação queimada decididos e controlados por alguém, em geral agricultores. O incêndio, ao contrário das queimadas, resulta de um ato involuntário ou criminoso. Alguns incêndios podem ter origem em queimadas que, por diversas razões, escaparam do controle dos agricultores.