Exemplo de Níveis Tróficos. Na base da pirâmide temos o primeiro nível trófico, que é formado pelos produtores (exemplo: Grama). Em seguida temos a presença dos consumidores primários na faixa marrom, os herbívoros (exemplo: Mouse). Na terceira escala, por sua vez, aparecem os carnívoros, que estão no terceiro nível trófico (exemplo: Cobra). Por fim, no extremo superior da pirâmide, contamos com os consumidores terciários, que ocupam o quarto nível trófico (Exemplo: Falcão). Todos os níveis tróficos contarão com a ação dos seres vivos decompositores.
Artigo convidado de autoria de Guellity Marcel*
Todas as formas de vida requerem certa quantidade de energia e matéria para sobreviverem em seus respectivos habitats. De acordo com as diferentes interações entre as espécies e seus hábitos alimentares, é possível identificar o estabelecimento de rotas ou fluxos por onde a energia e a matéria circulam nos diferentes níveis tróficos, ou seja, nos organismos produtores primários, decompositores e detritívoros, herbívoros, carnívoros e parasitos, juntamente com as condições físicas e químicas que definem seus modos de vida.
É impossível falar de níveis tróficos nos ecossistemas e não mencionar a ecologia dos ambientes aquáticos. Diferentemente dos organismos terrestres que dependem das mudanças climáticas e diversos outros fatores abióticos e bióticos para sobreviverem, os organismos aquáticos dependem muito mais dos nutrientes minerais disponíveis que chegam principalmente do continente. A degradação dos diferentes tipos de rochas por ação das forças climáticas, originam diferentes tipos de solos, e estes por sua vez possuem diversos nutrientes. A água da chuva carreia parte destes nutrientes até os rios que vão desaguar nos oceanos. Além disso, os nutrientes podem chegar até os oceanos simplesmente pelo escoamento da água da chuva diretamente nas costas/litorais. A chuva por si só também traz consigo nutrientes oriundos da água evaporada dos solos e vegetais, e contribui de certa forma com a quantidade de nutrientes que chegam no mar.
Os principais organismos que utilizam estes recursos são os produtores primários, também chamados de fitoplânctons (micro-organismos fotossintéticos dispersos na coluna d’água com pouca capacidade de locomoção). Eles ocorrem na zona eufótica, ou seja, na zona em que é possível realizar fotossíntese, que geralmente compreende os 100 primeiros metros de profundidade em mar aberto, ou, em profundidades muito menores à medida que se aproximam da costa e a radiação solar é abundante. Estes organismos são, como o próprio nome sugere, produtores da primeira fonte de energia e matéria que irá compor o ecossistema aquático marinho. No caso, estes fitoplânctons sustentam diversas espécies de zooplânctons (conjunto de animais marinhos que vivem dispersos na coluna d’água e com pouca capacidade de locomoção), que por sua vez vão ver consumidos por uma diversidade de organismos maiores como crustáceos, moluscos e peixes pequenos. Logo, estes pequenos vertebrados serão consumidos pelos carnívoros de topo, como os grandes tubarões e outras espécies de peixes, mamíferos, serpentes, aves marinhas e etc.
É interessante destacarmos que estas interações entre os diferentes níveis tróficos ocorrem principalmente na zona eufótica, onde há uma maior riqueza de espécies.
Assim como existem organismos decompositores e detritívoros conhecidos no ambiente terrestre, no fundo dos oceanos eles também existem. Em maiores profundidades, à medida que a intensidade de radiação solar (luminosidade) decresce, a riqueza de espécies decresce com a redução da disponibilidade de recursos. No fundo do oceano há elevada pressão e é totalmente escuro. Porém, uma comunidade pequena de extraordinárias espécies de atividade biológica muito lenta habita este local, incluindo espécies de crustáceos, moluscos e peixes que não são encontrados em nenhum outro lugar, além das espécies de os organismos decompositores e detritívoros que se alimentam da chuva de restos de outros organismos mortos ou de organismos moribundos da superfície. As atividades destes organismos fazem com que os recursos sejam novamente disponibilizados e se acumulam no fundo do oceano, emergindo de acordo com as movimentações das correntes oceânicas, complementando os recursos oriundos dos continentes e das chuvas, na zona eufótica. Por mais grandioso que o oceano pareça, ele na verdade é composto, em sua maioria, por áreas consideradas desérticas! Este fato se dá por conta da disponibilidade dos recursos que sustentam os ecossistemas marinhos e não são abundantes em regiões isoladas, e, por isso, a diversidade de espécies se concentra mais próxima da costa do que em regiões totalmente afastadas.
Já nos ecossistemas terrestres, os níveis tróficos são um pouco mais complexos, justamente porque além da dependência dos recursos e nutrientes, as espécies são influenciadas por diversas condições físicas e químicas em seus ambientes.
As “plantas verdes” (fotossinteticamente ativas) constituem os principais organismos produtores primários dos ecossistemas terrestres. Neste caso, os vegetais captam recursos provenientes dos diferentes tipos de solos, podendo apresentar variações nas suas composições de acordo com a quantidade de nutrientes disponíveis e também de acordo com a interferência das condições sobre o crescimento e desenvolvimento destes organismos.
Dentre os diferentes biomas, as florestas tropicais são as mais ricas em espécies vegetais e animais. Elas são as maiores produtoras primárias, atingindo a marca de 1.000 gramas de Carbono fixado por metro quadrado/ano, diferente dos ambientes marinhos, onde as zonas mais produtivas apresentam cerca de 90 a 100g Carbono/m²/ano. A elevada riqueza de espécies nessas regiões se dá por conta da influência da intensa radiação solar que a linha do equador recebe, aumentando a taxa fotossintética e a fixação de carbono destes organismos produtores primários.
As plantas apresentam uma série de adaptações que lhes permitem evitar organismos herbívoros e também possibilitam uma menor perda de água durante os processos da fotossíntese. Porém, do mesmo modo, existem muitas variações nos aparatos bucais de diversas espécies de insetos herbívoros para sobrepujar as defesas vegetais. Há também uma associação mutualística entre animais herbívoros e protozoários e bactérias celulolíticas, que realizam a quebra da celulose e outros compostos vegetais no trato intestinal destes animais, que são geralmente ruminantes.
Um vegetal oferece diversos tipos de recursos para diversas espécies. Existem organismos herbívoros, frugívoros, nectarívoros, etc, e diversas outras espécies especialistas em obter recursos de partes específicas dos vegetais, que são constituídos principalmente de Carbono. Os vegetais são compostos também por nitrogênio, muitas vezes obtidos diretamente dos solos junto com os nutrientes essenciais, e, outras vezes, algumas espécies são capazes de captá-lo diretamente da atmosfera.
Desse modo, a razão Carbono/Nitrogênio para as espécies vegetais é 40:1 enquanto que para as espécies animais este valor é de 10:1.
As espécies herbívoras, por serem o segundo nível trófico, assimilam muita quantidade de carbono também. Elas excretam compostos ricos em carbono e principalmente fibras. Já as espécies carnívoras, diferentemente das espécies herbívoras, assimilam em seus corpos grande quantidade de gordura e proteínas, excretando compostos nitrogenados.
Em ambos os ambientes (marinhos ou terrestres) e nos diferentes níveis tróficos que conhecemos, há o constante fluxo de energia e matéria, como no caso da razão Carbono/Nitrogênio entre vegetais e animais. Este fato evidencia que ao longo dos níveis tróficos, de acordo com as diferentes características fisiológicas dos organismos, a matéria obtida passa a ser assimilada e convertida em outros compostos, que são assimilados e convertidos em níveis tróficos subseqüentes, até que ocorra a morte dos organismos, e então, os detritívoros e decompositores, devolvem aos solos e ambientes aquáticos, os nutrientes que novamente serão utilizados pelos organismos produtores.
As atividades metabólicas dos organismos geram, por conseqüência, muito calor, como resultado do uso da energia obtida nos diferentes níveis tróficos. Neste caso, o calor pode aumentar a velocidade das reações metabólicas ocorrentes, ou simplesmente é perdido, nos vegetais, pela evapotranspiração, e, nos animais, pela evaporação por sudorese ou pela própria respiração pulmonar.
Como o ditado diz “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Esta frase reflete exatamente tudo que acabaram de ler neste post: os diversos nutrientes, como simples partículas que são, são capazes de sustentar uma grande diversidade de espécies que fazem parte de diversos ecossistemas aquáticos e terrestres, num ciclo contínuo, determinado por um conjunto de condições e recursos e inter-relações ecológicas, que possibilitam a existência da fauna e flora que temos hoje. É por isso que cada vez mais me apaixono pela ecologia!
Espero que tenham gostado deste post. Agradeço ao meu amigo Gabriel Cerqueira pela oportunidade dada. Forte abraço amigos do Diário do Verde!
*GUELLITY MARCEL
Biólogo e idealizador do blog “Eu Quero Biologia“, a quem o Diário do Verde agradece.
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