Paisagem: conceito de uso comum, antropocêntrico, e evoca uma porção de território abarcada por um lance de vista. Como objeto de pesquisa, as paisagens foram inicialmente estudadas, estrutural e funcionalmente, pelos geógrafos. Recentemente, a ecologia também descobriu a importância e a validade desse conceito para uma melhor compreensão da repartição e da interação espacial dos ecossistemas. Voltada para a ecologia terrestre, a ecologia das paisagens (landscape ecology) visa descrever, explicar e entender o espaço heterogêneo e multifuncional. Esse tipo de abordagem vai desde o estudo da gênese das paisagens até a sua dinâmica ambiental. Tal dinâmica está vinculada, em primeiro lugar, ao balanço existente entre os processos pedogenéticos e morfogenéticos, onde a vegetação cumpre um papel fundamental. O recobrimento vegetal dissipa a energia cinética das chuvas e dos ventos, entre outros agentes físicos. Ao invés de alimentar a morfogênese (erosão, movimento de materiais…), esses agentes climáticos terminam por favorecer a pedogênese em ambientes estáveis. Nos ambientes instáveis tem-se o contrário: uma perda e um transporte de material edáfico mais intenso, a dificuldade, a dificuldade da vegetação em fixar-se e se desenvolver no substrato físico etc. Na medida em que a dinâmica das paisagens está bastante vinculada à vegetação nos ambientes naturais, as mudanças introduzidas pelo homem no uso das terras também podem influenciar na estabilidade ou instabilidade ambiental de uma área. A ação do homem, ao erradicar a vegetação nativa e substituí-la por outra de seu interesse, altera a rugosidade das paisagens, levando à fragmentação e simplificação das formas e das comunidades vegetais. A caracterização ecológica das paisagens considera simultaneamente fatores relativamente estáticos, como a geologia, a podologia, a topografia etc. – quase sempre vinculados ao meio abiótico -, e fatores dinâmicos, como as precipitações, a vegetação, as populações animais… A ecologia das paisagens encontra-se em pleno desenvolvimento. Dada a dinâmica espácio-temporal do uso das terras na maioria das regiões do planeta, ela utiliza com frequência instrumentos como o sensoriamento remoto: os satélites voltados para a obtenção de imagens dos recursos naturais terrestres. Na interpretação de imagens orbitais e na cartografia de ecossistemas, a ecologia das paisagens trabalha com noções de padrões espaciais, vizinhança, diversidade espacial, fragmentação, heterogeneidade, rugosidade, textura, gradientes, gradações, etc. Essas noções permitem uma compreensão mais detalhada das transferências de energia e matéria entre os ecossistemas, de suas interdependências e condicionamentos dentro de um marco espacial concreto, como uma bacia hidrográfica, uma encosta voltada para o norte ou exposta a um vento dominante.
Poluição: representa um dos mais preocupantes efeitos da degradação do meio ambiente pela civilização moderna. Não existe tema tão estudado e debatido em ecologia como o problema da poluição. Para muitos, falar de ecologia é quase sinônimo de falar de poluição. O termo poluição foi definido por Ramade em 1977 como uma alteração ou modificação desfavorável do meio natural, que aparece em parte ou em totalidade como subproduto da atividade humana. Através de efeitos diretos ou indiretos, a poluição altera os critérios de repartição dos fluxos de energia, dos níveis de radiação, da constituição físico-química do meio natural e da abundância das espécies. Essas modificações podem afetar o homem diretamente ou através de recursos consumidos: os gerados pela agricultura, a água, o ar ou outros produtos biológicos. Esses produtos também podem afetá-lo ao alterar os objetos físicos que este possui ou constituiu, reduzindo as possibilidades recreativas do meio ambiente ou ainda empobrecendo e enfeiando a natureza. A poluição abarca um campo vastíssimo de estudos e trabalhos científicos inter-relacionados, mas não confundíveis. Em primeiro lugar estão os trabalhos consagrados à poluição do ar, seguidos pelos estudos de poluição das águas e dos solos. Hoje avalia-se inclusive a poluição satelitizada e em órbita, graças aos programas espaciais dos diferentes países. A natureza dos poluentes varia muito e se diversificou com a própria evolução dos meios de produção e consumo. Existem os poluentes sólidos, líquidos, gasosos, radiativos, sonoros, biológicos… Muitos produtos naturais também são considerados como poluentes quando sua concentração ou presença excede os níveis normais ou aceitáveis em determinado ambiente. Enquanto isso, produtos tóxicos, mesmo em pequenas quantidades no meio ambiente, já podem ser considerados como uma ameaça para os seres vivos. Em síntese, os principais tipos de poluição podem ser classificados em três grupos, como propõe Barbault: as poluições de natureza física (poluição térmica, radiações, ruídos, infrasons…), as poluições químicas (produtos naturais, minerais ou orgânicos, substâncias de síntese antes inexistentes na natureza…) e as biológicas (contaminações microbiológicas, introdução de espécies exóticas, proliferação de determinadas espécies…).
Poluição do Ar: os principais poluentes atmosféricos podem ser classificados em dois tipos: os poluentes gasosos e os aerossóis. Os poluentes gasosos resultam diretamente das atividades industriais, urbanas e agrícolas. Em primeiro lugar estão os derivados do carbono, como o dióxido de carbono, ou gás carbônico (CO2), o óxido de carbono ou monóxido de carbono (CO), os hidrocarbonetos e os aldeídos. Os carros a gasolina estão entre os principais responsáveis pelo lançamento de CO2e CO na atmosfera. Mais grave é o consumo de carvão pela indústria e pelo aquecimento residencial durante o inverno nos países temperados, responsáveis pelo aumento do carbono na atmosfera. A incineração de lixo, por um lado, o consumo de lenha e os incêndios florestais, por outro, também contribuem em termos equivalentes na emissão de carbono. Quanto aos hidrocarbonetos, além das fontes naturais – emissão pela vegetação de hidrocarbonetos terpênicos -, eles resultam principalmente da combustão incompleta do óleo diesel e da gasolina. O anidrido sulfuroso ou gás sulfuroso (SO2) resulta, sobretudo, da riqueza em enxofre existente nos combustíveis derivados do petróleo. Ele é responsável pela alteração do pH ou pelo aumento da acidez das chuvas. Nuvens de ácido sulfúrico se formam no contato do gás sulfuroso com o vapor de água atmosférico e dão origem à chamada chuva ácida. A introdução de partículas sólidas, aerossóis, representa também uma importante fonte de poluição atmosférica gerada pelo homem, além do caráter natural desse fenômeno (erosão eólica, atividade vulcânica etc.). As diversas partículas ou “poeiras” lançadas na atmosfera podem ser classificadas em função de seu tamanho (sedimentáveis), as semifinais ou pouco sedimentáveis e as inframicroscópicas (insedimentáveis). As primeiras, em grandes aglomerações industriais urbanas, podem representar uma deposição de várias centenas de toneladas por quilômetro quadrado a cada ano! Em termos qualitativos, as indústrias siderúrgicas e as metalúrgicas lançam grandes quantidades de óxidos de ferro, bem como aerossóis de zinco, chumbo, cobre e alumínio, extremamente poluentes. A destruição de baterias de automóveis, sobretudo em incineradores, também leva muito chumbo à atmosfera. Outro problema importante de aumento da turbidez atmosférica está ligado à prática generalizada de queimadas agrícolas em países tropicais e à ocorrência de incêndios em florestas temperadas e vegetações muito suscetíveis, como as do entorno mediterrânico. Cabe agregar ainda a poluição sonora, uma das poluições atmosféricas mais difíceis de serem eliminadas. Ela representa hoje uma das principais preocupações ambientais de países como o Japão, já que cresce a cada dia nos ambientes urbanos e industriais, apesar dos avanços obtidos nos processos de transformação e transporte, bem como nos isolantes sonoros. Os problemas de poluição sonora afetam tanto a sociedade humana como as populações animais. Estudos ecológicos mostram, por exemplo, como a ruptura da barreira do som por aviões militares, seguida por um estrondo característico, é capaz de inviabilizar os ovos de várias espécies de aves ainda no ninho. Aliás, os aviões, em particular os supersônicos, são responsáveis pela injeção na estratosfera de um grande número de poluentes (SO4, hidrocarbonetos, CO, NO, SO2…). Vários desses produtos contribuem na destruição da chamada camada de ozônio.
Poluição das Águas: os processos de poluição de águas continentais (reservatórios, lagos, rios, lençóis freáticos, poços…) são de natureza muito diferente dos que ocorrem em águas oceânicas ou dos mares, tanto nos mecanismos em jogo como nas consequências ambientais. Mas ambas, as doces e as oceânicas, são receptáculo de uma enorme gama de poluentes químicos, radioativos, microbiológicos, sonoros, orgânicos. Os principais responsáveis pela poluição das águas doces são os sais solúveis (nitratos, cloretos…), os detergentes, os adubos e os metais pesados, o fenol, os pesticidas e a poluição biológica, todos produzidos pelas atividades humanas, industriais, urbanas e agrícolas. Cada um desses grupos de poluentes mereceria um capítulo, dadas suas especificidades. Sua dinâmica no meio hídrico é bastante conhecida, ao contrário do que acontece com os poluentes atmosféricos. A alteração da temperatura das águas após seu uso industrial, assim como de suas características e propriedades físicas, em função da presença de matérias em suspensão, também são formas de poluição da hidrosfera. A poluição biológica das águas se caracteriza sempre por uma forte contaminação bacteriológica, gerando problemas de saúde pública permanentes, agudos e crônicos. O caso do cólera no Brasil, sua expansão e manutenção sob forma endêmica é um exemplo do terreno fértil que vírus e bactérias nocivas ao homem (hepatite, colibaciloses…) encontram hoje nos recursos hídricos poluídos. As matérias orgânicas lançadas nos cursos d’água, de origem industrial ou doméstica, também são putrescíveis. A fermentação desses resíduos leva a uma diminuição do oxigênio dissolvido na água, cuja medida é conhecida como DBO (demanda biológica de oxigênio). Enquanto na atmosfera a taxa de oxigênio se mantém constante mesmo em ambientes poluídos, o mesmo não acontece nos ambientes aquáticos. A quantidade de oxigênio dissolvido na água é função de sua temperatura. De cerca de 15mg por litro a 0°, ela cai para 7,5 a 30°. Nos mares, a taxa de oxigênio dissolvido é menor que nas águas continentais, e as propriedades físicas da água – e grande estabilidade – contribuem para manter essa taxa de oxigênio bastante constante em ambientes naturais. O oxigênio é indispensável à vida, e sua taxa nas águas regula a existência e a dinâmica dos povoamentos animais e vegetais. A presença da poluição biológica se traduz pela proliferação de bactérias e micro-organismos que se nutrem e degradam as matérias orgânicas putrescíveis. Para isso, eles consomem oxigênio, tanto utilizado na respiração desses organismos, como na oxidação dos produtos degradados. Isso se traduz por uma redução do oxigênio dissolvido na água, que vai ocasionar a morte por asfixia de organismos superiores como os peixes. Esse é um dos aspectos da eutrofização dos lagos e reservatórios, extremamente frequente em regiões tropicais, para não dizer inevitável. A poluição dos mares, destinatário final de quase toda a poluição hídrica, é agravada pelo caso dos hidrocarbonetos resultantes da lavagem dos tanques de navios e, sobretudo, dos acidentes com petroleiros, cuja magnitude tem sido crescente dado o aumento da capacidade de transporte desses navios. Os mares acumulam também grandes quantidades de metais pesados, pesticidas, detergentes, matérias orgânicas e em suspensão, sobretudo na proximidade da faixa costeira ou em mares semifechados, como o Mediterrâneo, o Mar de Aral ou o Mar Negro. As centrais nucleares implantadas à beira-mar (ou nas margens dos rios) também são um fator de poluição térmica e eventualmente radiativa. Os países desenvolvidos continuam destinando boa parte de seu lixo radiativo para o fundo dos mares, em contêineres especialmente concebidos para esse fim!
Poluição dos Solos: resultado da degradação de um determinado material rochoso, sob a ação do clima, os solos evoluem também em função da posição topográfica que ocupam e da vegetação que os recobre. A formação dos solos, conhecida comopedogênese, é contínua. Os solos evoluem em função de processos diferentes, como alixiviação, amigraçãode argilas, aferralitização, aferruginização, apodzolizaçãoetc. Hoje, um dos maiores fatores de mudanças na evolução dos solos é a ação humana. Grande parte dos solos são impermeabilizados nas cidades, recobertos por cimento, concreto e asfalto, uma das principais causas das enchentes: os rios têm de dar vazão em pouco tempo a uma grande quantidade de água que antes se infiltrava nos solos. Mas o pior problema para os solos é a sua poluição através de resíduos sólidos e líquidos. Já na Antiguidade o homem degradou muitos solos de forma lenta e crônica, pelo pastoreio excessivo. Os primórdios da irrigação no Oriente (Babilônia, Egito) levaram a graves problemas desalinizaçãodos solos. Um fenômeno insidioso e invisível. Assim pereceram os jardins da Babilônia, apesar de todos os sacrifícios aos deuses para que as plantas voltassem a crescer. Hoje, a principal fonte de poluição dos solos é a agricultura. Em primeiro lugar, pelo uso inadequado de adubos, herbicidas, fungicidas e inseticidas. Em segundo lugar, pelo desmatamento, pelo uso do fogo e de tecnologias agrícolas inadequadas. Com o tempo, os solos perdem suas propriedades físicas, químicas e biológicas. Empobrecem e diminuem sua capacidade produtiva. Acabam abandonados ou destinados a atividades extensivas, como a pecuária.
População: para a ecologia, uma população é um conjunto de indivíduos da mesma espécie ocupando um espaço determinado. Nem sempre é fácil estabelecer do que se trata “um espaço determinado”. Os ecólogos são obrigados a delimitar as populações: os macacos de uma floresta, os peixes de um lago, os répteis de uma colina… Mas as populações, como os ecossistemas, sãosistemas abertos, e essa visão é que permite uma delimitação, sem maiores problemas, das populações. Para a ecologia, as populações animais e vegetais se apresentam como um todo coerente e que possui propriedades intrínsecas, bem além das características dos indivíduos que as compõem (R. Barbault). As populações possuem uma organização própria, caracterizada por uma rede de inter-relações genéticas, tróficas, sexuais, etológicas e até fisiológicas. Mas para a ecologia, o conjunto funcional a ser estudado é o sistema constituído pela população e seu ambiente. As populações podem ser descritas a partir de uma série de critérios qualitativos e quantitativos. A primeira característica quantitativa das populações é o seuefetivo, ou o número de indivíduos que a compõem. Em geral os ecólogos trabalham com um dado mais cômodo, adensidade, ou o número de indivíduos por unidade de superfície ou de volume. Dentro de um espaço ou volume dado, a ecologia é capaz – graças a procedimentos estatísticos e matemáticos – de estabelecer como é a repartição espacial dos indivíduos. Ela pode ser regular, aleatória ou grupada. Essa repartição e os valores que ela assume, representam importantes indicadores sobre o comportamento dos indivíduos (gregarismo,migração, nomadismo, territorialismo, dominâncias…) e sobre sua relação com elementos do espaço (recifes, árvores, rochedos, formigueiros…). As estruturas das populações também são estudadas pelos ecólogos em termos de suas idades ou pirâmides etárias e de suas proporções sexuais (sex-ratio). Esses valores variam durante o tempo, em função das condições ambientais (verão/inverno, período seco/chuvoso…) e em função da própria evolução demográfica da população. O crescimento das populações tende a ser exponencial, já que são verdadeiros sistemas cinéticos. Os ecólogos desenvolveram modelos matemáticos que permitem conhecer a cada instante o efetivo real e não somente teórico de uma população, em evolução constante. Esses modelos trabalham com taxas de natalidade e mortalidade das populações, de um lado, e, por outro, com as taxas de imigração e emigração. Eles podem integrar, ainda, aspectos decompetição, intra-específica e interespecífica. Outra série de instrumentos matemáticos foram desenvolvidos pela ciência ecológica para estabelecer tabelas de sobrevivência e de fecundidade para diferentes populações, considerando a idade dos indivíduos. Tais tabelas de sobrevivência são chamadas longitudinais ou dinâmicas, quando tratam de toda a vida de espécie, entre seu nascimento e sua extinção. E são chamadas transversais ou estáticas quando se aplicam a um período dado na vida da população. As tabelas de fecundidade são importantes para determinar as mudanças demográficas das populações através do estabelecimento de taxas de natalidade. Os estudos quantitativos das populações também permitem conhecer melhor as relações predador-presa e o controle exercido de forma passiva e ativa entre ambos. Tanto as estratégias de exploração do predador como o comportamento da presa podem ser mais bem entendidos através de estudos ecológicos das dinâmicas de suas populações. Os estudos denicho ecológicosão bastante dependentes de parâmetros e métodos estabelecidos nos estudos ecológicos das dinâmicas das populações animais e vegetais. Para realizar esses estudos e estabelecer noções de limitação, regulação e estabilização entre as populações e o meio ambiente, os ecólogos desenvolveram teorias e estratégias de amostragem extremamente sofisticadas e complexas. As estratégias de amostragem e as técnicas de coleta associadas são fundamentais para que esses dados possam ser conhecidos em ambientes de difícil acesso, como as profundezas do mar, o cimo das árvores, o subsolo etc., ou no caso de animais de difícil observação, dados os seus hábitos, tamanho ou ambiente em que vivem. Asestratégias de amostrageme as técnicas de coleta não destrutivas ajudam também na obtenção de dados sem perturbação, ou com uma perturbação mínima, no ambiente e nas populações. Nenhum manejo racional de populações, com o objetivo de restaurar um equilíbrio ambiental, reintroduzir uma espécie, favorecer seu desenvolvimento ou proceder a uma utilização dos recursos faunísticos sem comprometê-los – como no caso da pesca de determinados animais (sardinhas, atuns, lagostas, camarões…) – pode ser realizado com sucesso sem o conhecimento científico dos parâmetros que regem a ecologia da população de interesse.
Povoamento:conjunto das populações de diferentes espécies ocupando um espaço determinado, mas que pertencem a um mesmo grupo taxonômico (povoamento de aves, povoamento de macacos, povoamento de árvores…) ou funcional (povoamento de carnívoros, povoamento de herbívoros). Num ecossistema, um povoamento não pode ser confundido com a biocenose que reúne todos os seres vivos ali existentes. Trata-se de um conceito utilizados pelos ecólogos para definir um nível de organização das formas de vida nos ecossistemas, intermediário entre a população e a biocenose. A história da ciência ecológica tem demonstrado a importância do estudo dos povoamentos como uma etapa necessária à compreensão do funcionamento de biocenoses, de suas estratégias demográficas e de seu papel nos ecossistemas. Os povoamentos podem ser caracterizados de várias formas. O primeiro ponto é o de determinar as espécies das populações que os compõem ou a sua riqueza específica. Trata-se do sentido comum das expressões que descrevem uma região ou uma área como importante ecologicamente por possuir uma grande riqueza florística ou faunística. Veja também: Diversidade. O segundo parâmetro global de caracterização de um povoamento, usado em ecologia, é a sua diversidade específica. Graças aos estudos ecológicos dessa natureza, hoje em dia se atribui uma grande importância à diversidade biológica. Para defender ou preservar a biodiversidade, é necessário conhecê-la e quantificá-la. Não é simples medir a diversidade, que não pode ser confundida com riqueza específica, relativamente fácil de ser quantificada. No estudo dos povoamentos, a densidade, entendida como o número de indivíduos por unidade de superfície ou volume, é um outro parâmetro complementar de medida. Com ajuda desses parâmetros é possível considerar o povoamento como um sistema organizado e estudar seus principais tipos de interações interespecíficas. Essas interações ocorrem na busca de exploração dos recursos naturais e terminam por estabelecer estratégias de compartilhamento de recursos no âmbito de um ecossistema dado. É o mecanismo que leva a uma separação ecológica das espécies potencialmente concorrentes e permite a sua coexistência no mesmo ecossistema. A separação ecológica das populações acontece segundo quatro principais eixos: o espacial, o temporal, o morfológico e o etológico. A segregação espacial separa os animais em função da altitude, de microambientes ou de regiões geográficas diferentes. A segregação temporal os separa de forma cronológica e, assim, podem ocupar o mesmo lugar ou recurso em momentos diferentes e exclusivos. A segregação morfológica (ao aumentar o tamanho dos corpos, dos bicos, das mandíbulas…), faz com que os regimes alimentares se diversifiquem, da mesma forma que a segregação etológica (comportamental), tenha ela uma base morfológica ou não. Assim, o estudo ecológico dos povoamentos passa pela análise dos mecanismos de separação ecológica das espécies e se apóia nas teorias de nicho ecológico e de competição (R. Barbault).
Preservação: a noção de preservação da natureza emerge como uma exigência ética das sociedades. Superando progressivamente sua visão utilitarista dos recursos naturais, as sociedades passaram a considerar os bens da natureza não somente como possível matéria-prima para a produção de mercadorias, acúmulo de bens e riquezas. Várias palavras vieram se juntar a essa noção para diferenciar as diversas formas de proteção dos ecossistemas terrestres. Para cada necessidade e vontade preservacionista foram criadas figuras jurídicas, como os parques nacionais ou estaduais, as estações ecológicas, as reservas biológicas, as áreas de preservação permanente, as áreas de proteção ambiental, as reservas extrativistas, etc. Os desafios preservacionistas ainda são muitos: manter para o futuro parcelas representativas dos ecossistemas primitivos, cada vez mais raros e ameaçados de desaparecimento; preservar in situa diversidade de germoplasmas, em face da erosão genética originada pela expansão dos sistemas industriais, urbanos e agrícolas; manter algumas características fundamentais das paisagens, através de uma regulamentação do uso das terras; preservar recursos hídricos para consumo humano. Nesse sentido, os termos conservação, proteção, preservação, restauração e recuperação são empregados em ecologia com um significado próprio, apesar de não existir um rigor de definição estabelecido para cada uma dessas palavras. Seus significados principais e distintos são:
Conservação – Implica a interferência do homem para que os ecossistemas ou as espécies sobrevivam. A conservação vai além da criação de parques ou reservas, pressupondo algum manejo da área. É diferente de preservação e proteção.
Proteção – Implica a regulamentação das atividades do homem, para que os ecossistemas e espécies não sofram grandes impactos. É diferente de conservação e preservação.
Preservação – Implica o afastamento total do homem e atividades humanas, mesmo que esporádicas. Numa área de preservação estão seres em equilíbrio, que podem viver sozinhos, desde que o homem não atrapalhe. É diferente de conservação e proteção.
Recuperação – Implica ações que ajudem um ecossistema ou uma espécie a restabelecer seu equilíbrio. Uma mata pode se recuperar sozinha, se passa a ser protegida contra novas agressões e se o grau de destruição não compromete a capacidade de regeneração. É diferente de restauração.
Restauração – Nesse caso, a intervenção humana é ainda maior. Trata-se de reconstituir, às vezes a partir de quase nada, os ecossistemas existentes. Isso implica muitos investimentos, a reintrodução de germoplasmas vegetais e animais, a reconstituição de hábitats, populações e povoamentos, um longo tempo de manejo etc. Às vezes isso é fundamental após desastres ecológicos, como graves derramamentos de petróleo, incêndios, desmatamentos e outros processos que, além de erradicarem as espécies, alteram profundamente seu hábitat.
Produtividade Primária: há mais de dois bilhões de anos, relativamente no início da evolução, a vida “optou” por mediar toda a captação de energia solar – e por consequência o próprio funcionamento de toda a biosfera – a partir de um pequeno número de moléculas: a clorofila e alguns outros pigmentos assemelhados. A clorofila é uma molécula relativamente simples (um átomo de magnésio com um anel de quatro grupos pir(r)ólicos) e pequena (peso molecular em torno de 900). Para sustentar toda a biosfera, a clorofila e as moléculas assemelhadas (ficobilinas, carotenoides…) parecem um repertório muito limitado. Como ironiza R. Margalef, é como se a imaginação tivesse deserdado o processo evolutivo num aspecto tão importante ou como se a frase mais aprovadora do Gênesis tivesse sido aplicada a este caso: “E viu Deus que o que tinha feito era bom”. O fato é que a clorofila é capaz de utilizar apenas uma pequena fração da luz solar, e raramente ela funciona em pleno rendimento, devido à própria organização do sistema de fotossíntese. Estudos realizados por ecólogos sobre o fluxo de energia nos ecossistemas mostram que em um dia de sol somente 10 minutos de luz são utilizados efetivamente no processo fotossintético. Em geral, essa fração aproveitada é menos de 1/40 da luz total. Assim, uma superfície de 1 m² de vegetação, com um dia de 10 horas de luz, seria capaz de assimilar um máximo de 14g de carbono, valor na prática nunca alcançado. A natureza biológica do processo de produção primária leva a que boa parte dos produtos fotossintetizados sejam oxidados imediatamente. Eles são utilizados pela própria planta como consequência de sua respiração. Para viver, a planta também consome açúcares! Por essa razão pode-se distinguir a produção bruta ou total da produção líquida, que é o que resulta depois de deduzida a respiração. Parte dessa produção primária líquida irá alimentar os animais pelos mais diversos caminhos, dando origem aos mais diversos tipos de produção secundária. Os ecólogos estimam, de forma aproximada, que somente uma fração de 10% da produção líquida ou da energia de um departamento nível trófico flui para um outro. Nos animais, a relação entre alimento assimilado e alimento ingerido é extremamente variada. Em geral, essa eficiência alimentar aumenta na medida em que se sobe pela cadeia alimentar. Os peixes que filtram águas, as minhocas que ingerem terra e mesmo determinados herbívoros e roedores têm uma eficiência alimentar muito baixa, pois pouco do que ingerem é efetivamente nutritivo. Já os carnívoros e determinados parasitas podem chegar a 80%.